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AIDS: de quem é a culpa?

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AIDS: de quem é a culpa?

Por Dom Redovino Rizzardo

De janeiro a abril deste ano, em Dourados – uma cidade de 200.000 habitantes – morreram doze pessoas contaminadas pela AIDS e outras nove foram diagnosticadas com a doença. Três meses depois, em meados de julho, um levantamento demonstrou que a região formada pela Grande Dourados tinha 1237 pacientes soropositivos. O que preocupa e angustia a sociedade é o crescimento vertiginoso da doença entre jovens, adolescentes e crianças. Para reverter a situação, o Governo Federal decidiu implantar o “Projeto Nacional Saúde e Prevenção Escolar”, distribuindo aos alunos das escolas públicas kits com cartilhas, panfletos e preservativos.

Mais ou menos no mesmo período, a população do Rio Grande do Sul foi informada que, de dez anos para cá, a AIDS está ameaçando se transformar numa epidemia de proporções catastróficas. O Estado ocupa o primeiro lugar no Brasil: 37,6 casos a cada 100.000 habitantes Em Porto Alegre, a taxa de incidência é muito pior: de cada mil habitantes, um é afetado pela doença. A partir de 1980, quando foi diagnosticado o primeiro caso de AIDS no Brasil, em torno de 250.000 pessoas perderam a vida contaminadas por ela.

Entre os culpados pela triste primazia da capital gaúcha, não faltou quem colocasse também a Igreja Católica. Esta, pelo menos, é a opinião de um jornalista local que, ao machismo e ao uso de drogas injetáveis, acrescentou «o sexo desprotegido por motivos religiosos».

Em minha opinião, o contrário é que é verdade: se seguíssemos verdadeiramente o Evangelho, a maioria das doenças físicas, mentais e psíquicas que hoje atingem a humanidade, desapareceria como por encanto, a começar pela AIDS. A grande enfermidade da sociedade atual é a sua cegueira, ao não admitir que a quase totalidade dos adolescentes, jovens e adultos que se entregam desenfreadamente ao sexo, se não usam camisinha, não o fazem por motivos religiosos, mas por serem escravos de seus instintos: «Quando tentado, ninguém diga: “Deus está me tentando”. Porque Deus nem é tentado a fazer o mal nem tenta a ninguém. Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e seduz. Em seguida, a concupiscência concebe o pecado e o dá à luz. E o pecado, uma vez consumado, gera a morte» (Tg 1,13-15).

Numa das perguntas da entrevista que fez a Bento XVI em 2010, o jornalista alemão Peter Seewald expressou a opinião comum da sociedade, retomada agora por seu colega gaúcho: «O senhor declarou que, na África, a doutrina tradicional da Igreja revelou-se o único meio seguro para deter a difusão do HIV. Os críticos, inclusive dentro da Igreja, defendem o contrário, ou seja, que é uma loucura proibir a uma população ameaçada pela aids o uso de preservativos».

Em sua resposta, o Papa contestou a afirmação de que, «no que diz respeito à AIDS, a Igreja Católica assume uma posição irrealista e ineficaz», dando os motivos por que opta por medidas diferentes: «Não se pode resolver o problema com a mera distribuição de preservativos. Deve-se fazer muito mais. Precisamos estar perto das pessoas, orientá-las e ajudá-las, antes ainda que adoeçam. Concentrar-se no preservativo é banalizar a sexualidade. É essa banalização que leva muitas pessoas a não ver na sexualidade a expressão do seu amor, mas apenas uma espécie de droga, que cada um consome por sua conta e risco. Para vencer o HIV, precisamos partir para uma humanização de sexualidade».

Se ela não pode impor suas diretrizes para quem não reconhece a sua autoridade, contudo, para seus membros, que desejam viver a santidade no casamento, a Igreja apresenta um caminho a seguir, assim sintetizado por Bento XVI: «A Igreja não considera os preservativos como uma solução autêntica e ética. Contudo, eventualmente, com a intenção de diminuir o perigo de contágio, eles podem representar o primeiro passo de um processo direcionado a uma sexualidade assumida de maneira diferente, mais humana».
Se cabe às autoridades o dever de tomar as medidas possíveis e éticas contra a disseminação da AIDS, cabe aos pais a obrigação de oferecer a seus filhos uma sadia educação sexual, alertando-os sobre a terrível realidade: sexo também pode matar. Em contrapartida, «quando assumida por amor ao Reino de céus» (Mt 19,12), o que a castidade produz é saúde para a alma e para o corpo.

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo da Diocese de Dourados

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