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Céu e Inferno para Bento XVI

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Céu e Inferno para Bento XVI

Por Dom Redovino Rizzardo

Como era de se esperar, os meus artigos “Um Inferno diferente?” e “Do Inferno ao Paraíso” receberam críticas acerbas de vários leitores. Alguns deles me perguntaram se não teria sido mais edificante para um bispo enfatizar a doutrina da Igreja – clara, sólida e definida – do que apresentar as ideias peregrinas de um teólogo espanhol: «Leia o que o Papa Bento XVI escreveu no dia 30 de novembro de 2007, na Carta Encíclica “Salvos na Esperança”, e terá a resposta correta sobre o assunto!».
Por um dever de consciência, fiz o que me foi pedido. E, com alegria, percebi que ambos, Andrés Torres Queiruga e Bento XVI, concordam no que é essencial: o amor de Deus é maior do que os nossos pecados e a última palavra é sempre dele.

Antes de tudo, o Papa lembra que Deus é, ao mesmo tempo, justiça e graça: «Ambas devem ser vistas na sua justa ligação interior. A graça não exclui a justiça. Não muda a injustiça em direito. Não é uma esponja que apaga tudo, de modo que tudo quanto se fez na terra termine por ter o mesmo valor. No banquete eterno, não se sentarão à mesa indistintamente os malvados junto com as vítimas, como se nada tivesse acontecido».

O Papa fundamenta suas palavras no Evangelho de Lucas (16,19-31): «Jesus, na parábola do rico epulão e do pobre Lázaro, apresenta, para a nossa advertência, a imagem de uma alma tão devastada pela arrogância e pela opulência, que criou, ela mesma, um abismo intransponível entre si e o pobre: o abismo do fechamento dentro dos prazeres materiais; o abismo do esquecimento do outro, da incapacidade de amar, que se transforma agora numa sede ardente e irremediável».

A partir desse texto, Bento XVI fala do Purgatório: «Devemos destacar que Jesus, nesta parábola, não fala do destino definitivo depois do Juízo Universal, mas retoma a concepção do judaísmo antigo de uma condição intermédia entre morte e ressurreição, um estado em que falta ainda a última sentença. Neste estado, há lugar para purificações e curas que amadurecem a alma para a comunhão com Deus. A Igreja assumiu essas ideias e, a partir delas, desenvolveu a doutrina do Purgatório».

Quanto ao Inferno e ao Paraíso, ele escreve: «Com a morte, a opção de vida feita pelo homem torna-se definitiva. Ao longo de sua existência, a opção foi tomando forma e caracteres diversos. Pode haver pessoas que destruíram totalmente em si mesmas o desejo da verdade e a disponibilidade para o amor; pessoas onde tudo se tornou mentira; pessoas que viveram para o ódio e espezinharam o amor. Nelas, não haveria nada de remediável, e a destruição do bem seria irrevogável: é o Inferno. Por outro lado, podem existir pessoas puríssimas, que se deixaram penetrar inteiramente por Deus e, consequentemente, estão totalmente abertas ao próximo. Pessoas em que a comunhão com Deus orienta desde já todo o seu ser, e seu encontro definitivo com Deus eterniza o que elas já vivem e são». É o Paraíso.

«Mas, segundo a nossa experiência – continua o Papa –, nem um nem outro são o caso normal da existência humana. Na maioria dos homens, perdura no mais profundo da sua essência, uma derradeira abertura interior para a verdade, para o amor, para Deus. Contudo, nas opções concretas da vida, essa abertura é freada por repetidas concessões ao mal. O que acontece para essas pessoas quando comparecem diante do Juiz? Será que todas as coisas imundas que acumularam se tornarão, de repente, irrelevantes?».

Para a sua resposta, Bento XVI recorre à mesma passagem bíblica que Queiruga escolheu para falar de sua hipótese sobre o Inferno/Paraíso (1Cor 3,12-15): «As coisas edificadas durante a vida podem revelar-se palha seca, pura fanfarronice, e desmoronar. Contudo, é na dor deste encontro com o Juiz, em que o impuro e o nocivo do nosso ser ficam evidentes, que está a nossa salvação. Uma dor venturosa, em que o poder santo do seu amor nos penetra como chama, fazendo com que, no final, sejamos totalmente nós mesmos e, por isso, totalmente de Deus. É assim que se compenetram e se salvam simultaneamente a justiça e a graça: a justiça nos leva a cuidar de nossa salvação com temor e tremor (Fil 2,12); e a graça nos permite esperar e caminhar cheios de confiança ao encontro de um Juiz que é nosso advogado (1Jo 2,1)».

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo da Diocese de Dourados

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