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Igreja do Silêncio?

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Igreja do Silêncio?

É provável que, para as novas gerações, o título nada signifique. Contudo, quem nasceu antes do dia 9 de novembro de 1989, data da queda do Muro de Berlim, lembra a “Igreja do Silêncio” como uma realidade dolorosa que atingiu, durante 70 anos, os cristãos da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Marginalizados e perseguidos, era-lhes vedada qualquer manifestação religiosa. Os templos foram fechados e a maioria dos bispos e sacerdotes enviados para os gulags da Sibéria. Os poucos que ficaram, eram vigiados e impedidos de exercer seu serviço pastoral.

Por coincidência, na mesma época em que a “Igreja do Silêncio” se extinguiu na URSS, houve quem a visse despontar no Brasil. Como se sabe, ao longo dos vinte anos da ditadura implantada pela Revolução de 1964, a Igreja Católica se envolveu numa luta acirrada em favor dos direitos humanos, da justiça e da democracia. A defesa e a promoção das causas sociais suscitaram uma plêiade de bispos, sacerdotes, religiosos e leigos que preferiram enfrentar todo tipo de perseguição antes que pecar por omissão. Em 1980, muitos deles emprestaram seu apoio à criação do Partido dos Trabalhadores, que parecia aglutinar e concretizar os ideais de quantos acreditavam num Brasil limpo e para todos.
Repetiu-se no Brasil o que aconteceu na Itália. Em 1942, um grupo de líderes católicos fundou a “Democracia Cristã”, agremiação política que parte da cúpula da Igreja italiana apresentou aos fiéis como alternativa para tirar o país do caos em que fora deixado pela guerra. Contudo, 52 anos depois, em 1994, a “Operação Mãos Limpas” revelou que os ideais de seus fundadores haviam sido substituídos por uma corrupção generalizada. O próprio denominativo religioso que identificava o partido se tornou pretexto para que muitos italianos se distanciassem da Igreja.

Apesar das diferenças – o partido italiano se dizia “de centro” e combatia o comunismo, enquanto o brasileiro se considerava “de esquerda” e aborrecia o capitalismo – ambas as agremiações acabaram assumindo posições inconciliáveis com a doutrina católica, revelando que a Igreja sempre sai enfraquecida quando se apoia no Estado.

De 1985 para cá, com o fim do regime militar e, mais ainda, a partir do ano 2002, com a chegada do PT à presidência da República, não faltou quem julgasse perceber um abrandamento da “voz profética” da Igreja no Brasil, talvez porque persuadida que as aspirações alimentadas durante longos e sofridos anos tivessem alcançado o seu cumprimento. Ultimamente, para só citar um exemplo, alguns cristãos pediram uma postura mais firme do episcopado brasileiro em relação à reforma do Código Penal. Entre eles, até mesmo um padre, que me escreveu: «Esta matéria é grave. Seria bom cobrar da CNBB uma posição rápida. No dia 8 de agosto, a Comissão de Justiça do Senado começou a discutir a reforma do Código Penal, que traz coisas nefastas».

Procurei me inteirar e percebi que realmente se trata de “coisas nefastas” em assuntos de capital importância para a população, já que, quando se perdem os princípios morais, os desastres se fazem sentir em todos os segmentos da sociedade, desde a família e a escola, até a política e a economia. Estão sendo sugeridas mudanças relativas ao aborto (para realizá-lo, bastará que a mulher apresente um laudo psicológico afirmando não estar preparada para ser mãe), às drogas (que o usuário poderá cultivar e conservar), à eutanásia (propõe-se sua regulamentação), à legalização das casas de prostituição (a medida facilitará o tráfico de mulheres), à homofobia (poderá ser considerada crime contra a humanidade), à pedofilia (será abaixada a idade do consentimento para as relações sexuais) e à violência contra crianças indígenas (os índios não serão responsabilizados pela eliminação de recém-nascidos deficientes).
«Ai da Igreja se os bispos se calam!», dizia-se antigamente, quando se temia que eles se afastassem da exortação de São Paulo: «Prega a Palavra, insiste a tempo e a contratempo, adverte, repreende, exorta, com paciência e desvelo!». Mas, pelo menos no Brasil, a Igreja recebe muito mais críticas por falar do que por calar. Até mesmo porque «chegou o tempo em que, não suportando a sã doutrina, muitos buscam mestres a seu bel-prazer» (2Tm 4,2-3).

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo da Diocese de Dourados

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