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O bispo e os folhetos eróticos

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O bispo e os folhetos eróticos

Por Dom Redovino Rizzardo

Num dia desses, ao passar pela Praça Antônio João, em frente à catedral de Dourados, encontrei uma senhora que distribuía folhetos à população. Ela se aproximou de mim e me ofereceu a “mercadoria”. Como costumo fazer quando não estou por demais fechado em minhas preocupações, procurei ficar à vontade e puxei conversa com ela. Perguntei-lhe se o que me oferecia tinha serventia para mim, pois, muitas vezes, sobretudo nas paradas diante do semáforo fechado, recebo propagandas que, para a minha idade e “profissão”, têm pouco ou nenhum sentido.

Sem olhar para o meu rosto e verificando se, ao seu redor, houvesse outros possíveis “clientes”, ela respondeu: “Sem dúvida, é também para o senhor!” Aceitei o “presente” e o guardei no bolso. Pouco depois, já em minha casa, li seu conteúdo que – não posso negar – me fez mal: «Chegou a Dourados a mais completa loja de produtos sensuais e eróticos para apimentar ainda mais a sua relação. Entrega rápida e com total sigilo! Atendemos de segunda a sábado, das 9 às 23 horas»

De fato, poucos dias depois, num jornal local, encontrei a seguinte publicidade (provavelmente da mesma empresa): «Saia da rotina! Dê mais emoção e fantasia à sua vida com acessórios eróticos”».
Escrevi acima que a mensagem me fez mal. Primeiramente, porque pensei na pessoa que me abordou: uma senhora de meia idade, de aparência humilde e preocupada, certamente envolta em graves dificuldades financeiras para se submeter a uma atividade que macula e prejudica o que constitui a grandeza da mulher. Em segundo lugar, porque pensei na empresa que, levada pela ambição dos bens materiais, comercializa e banaliza a união sexual, como se o amor e a unidade entre homem e mulher dependessem de aparelhos sofisticados. Por fim, porque pensei que tudo isso em nada ajuda a humanidade a ser mais correta e mais oxigenada. Pois é fato comprovado que a corrupção que hoje atinge praticamente todos os segmentos da sociedade tem a sua origem na depravação do coração – depravação que é alimentada pela libertinagem sexual e pela ganância do dinheiro, as quais, por sua vez, desembocam na violência que avança em toda a parte.
Na manhã seguinte, mais um fato veio demonstrar a inversão de valores que ameaça a sociedade: os católicos que procuraram a catedral diocesana para fazer as suas preces encontraram os bancos recheados de folhetos pulicitários de uma loja da cidade, interessada em vender determinada marca de jeans…

Como remédio para o tsunami de notícias alarmantes que, todos os dias, chegam aos lares brasileiros, ao invés de uma conversão interior, a grande maioria dos que se julgam “mestres em Israel”, prefere recorrer a paliativos. É o que fazem todos aqueles que pensam que seja suficiente reduzir a maioridade penal, aumentar o número de presídios, investir nas forças policiais e proporcionar a todos os brasileiros o acesso ao estudo.
Ou, então, jogar a culpa na Igreja, como fez um advogado e criminalista de Dourados, que escreveu, no dia 1º de julho, num jornal local: «Acredito que as melhores formas de pôr um fim na noticiada insegurança urbana, contaminada pelas violências, só acontecerá se parte do dinheiro arrecadado nos impostos for aplicado na educação fundamental. Porém, antes é necessário um urgente controle da natalidade, usando-se avançados preservativos, métodos infelizmente condenados em algumas igrejas de mentalidade medieval. E, obviamente, se quisermos evitar a proliferação dos milhares de menores abandonados, muitos criados nas ruas, ainda teremos de assistir calorosos enfrentamentos nos debates com religiosos celibatários. E, espero, estejamos, nessa época das querelas dogmáticas, podendo ainda argumentar a respeito da gravidez descuidada, sem nenhum planejamento».
Como se as milhares de crianças que se multiplicam nas periferias de nossas cidades nascessem porque seus pais (quando os têm!) obedecem às leis da Igreja!

A verdade é muito diferente, como lembram as “Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil”: «O distanciamento de Jesus Cristo e do Reino de Deus traz graves conseqüências para toda a humanidade, principalmente nas inúmeras formas de desrespeito e destruição da vida, fruto de uma cultura de morte».

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo da Diocese de Dourados

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