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Pontes ou muros: a decisão é sua

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Pontes ou muros: a decisão é sua

Por Dom Redovono Rizzardo

A região denominada “a Grande Dourados” é conhecida como “a terra de todos os povos”, formada pela miscigenação de raças e culturas que, de todos os recantos do Brasil e dos países vizinhos, se juntaram para formar um povo forte e hospitaleiro. Como a maior parte de seus moradores acima dos 40 anos, eu também vim de fora e, ao aqui pisar em 2001, senti-me logo em casa. Apesar dos problemas causados pela disputa de terras entre agricultores e índios – conflito que se prolonga mais pela falta de vontade política do governo do que por culpa dos envolvidos – o que a maioria da população deseja é o fortalecimento desse clima de respeito mútuo, indispensável para o seu crescimento ético, cultural e social. A própria imprensa colabora para isso, dando vez e voz a todos os segmentos da sociedade.

Graças a Deus, são raras as pessoas que se servem da liberdade de expressão para atacar a quem pensa diferente – pelo menos no campo religioso. Infelizmente, uma exceção aconteceu no dia 27 de outubro, num artigo inserido no “Espaço Ecumênico”, edição semanal de um renomado diário da cidade. Por conhecer a linha do jornal, sei que não é de seu feitio incentivar tal comportamento.

O pretexto foi o 495º aniversário da Reforma Protestante, iniciada no dia 31 de outubro de 1517, quando Marinho Lutero afixou nas portas de uma igreja de Wittenberg, na Alemanha, 95 teses contra o que considerava abusos da Igreja à que até então pertencia.

Em seu escrito, o autor – que é Pastor da Igreja Metodista Central de Dourados – se sentiu no dever de divergir da Igreja Católica. De acordo com ele, «em 1229, a Igreja Católica proibiu os leigos de lerem a Bíblia, proibição que nunca foi revogada». Procurei aprofundar o assunto e verifiquei que, em 1229, um grupo de bispos reunidos em Toulouse, na França, vetou o uso de traduções da Bíblia do latim para o vernáculo, proibição esta que foi contestada, quatro anos depois, em 1233, por outra assembleia de bispos, em Tarragona, na Espanha. Dizer, por isso, que «a proibição nunca foi revogada» é ignorar todo o trabalho realizado pela Igreja Católica, sobretudo a partir do Concílio Vaticano II, para ajudar seus fiéis a construírem suas vidas sobre a Palavra de Deus.

A seguir, o autor enumera uma «série de mentiras» contestadas por Lutero, mas que continuam até hoje. Uma delas, é «o purgatório, que biblicamente não se sustenta, nem “forçando a barra”, e a pior delas: aproveitar-se do pobre populacho desconhecedor da Bíblia, arrancando-lhes seus trocados em favor de parentes mortos que, supostamente, estariam sofrendo nesse ambiente de torturas em pagamento aos seus pecados». A meu ver, porém, se a Igreja Católica reza pelos falecidos, o faz para obedecer à Bíblia, que assim se refere à comunhão existente entre eles e nós: «É um pensamento santo e salutar rezar pelos falecidos para que sejam absolvidos de seus pecados» (2Mc 12,46).

Por fim, o Pastor Metodista faz votos que apareçam muitos «reformadores que denunciem a baboseira que é reservar um “dia para todos os santos” (1º de novembro), enquanto o mundo precisa mesmo de pessoas santificadas vivas trabalhando em prol de outras pessoas vivas. Se a sua Igreja permite que você leia a Bíblia (sic!), concordará comigo que os mortos já se foram, e nunca, em nenhum trecho, a Bíblia vai dizer que, se eles forem “canonizados”, “beatificados” ou qualquer outra nomenclatura que se dê a essa invenção religiosa, deixam de ser “mortos” e passam a ser “intercessores”. Se os mortos não têm mais sequer conhecimento do que se passa na terra, prá quê reservar um dia para levar-lhes flores? Para deixá-los felizes? Só quem fica feliz no dia 2 de novembro é o dono da floricultura, que não tem culpa da ignorância do povo».

Não deixa de ser sintomático que alguém se sirva do “espaço ecumênico” para escrever algo nada ecumênico. Muito diferente do que fizeram, no mesmo dia e no mesmo jornal, outras três pessoas (incluindo um Pastor Luterano). E muito mais diferente ainda do que pensa o Pe. Elias Wolf (exagerando?): «O pluralismo das religiões não é algo problemático ou um mal a eliminar. É uma atitude de abertura aos dons que Deus oferece à humanidade. É aceitação da riqueza multiforme do próprio Deus».

Dom Redovino Rizzardo
Bispo da Diocese de Dourados

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