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Quando ecologia rima com hipocrisia…

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Quando ecologia rima com hipocrisia…

Por Dom Redovino Rizzardo

Sem dúvida, um dos grandes avanços da humanidade destas últimas décadas é a preocupação pelo meio ambiente. Em toda a parte e a cada dia surgem movimentos, instituições e até mesmo partidos políticos empunhando a bandeira da ecologia. A própria Conferência Nacional dos Bispos do Brasil dedicou várias de suas Campanhas da Fraternidade ao tema. A última vez ocorreu em 2011, com o lema: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22).
Uma síntese do pensamento da Igreja sobre o assunto é trazida pelo documento conclusivo da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, acontecida em Aparecida, em maio de 2007: «A criação é manifestação do amor providente de Deus; foi-nos entregue para que cuidemos dela e a transformemos em fonte de vida digna para todos. Ainda que hoje se tenha generalizado uma maior valorização da natureza, percebemos claramente de quantas maneiras o homem amea¬ça e, inclusive, destrói seu ‘hábitat’. Nossa irmã a mãe terra é nossa casa comum e o lugar da aliança de Deus com os seres humanos e com toda a criação. Deus entregou o mundo para todos, e o destino universal dos bens exige a solidariedade com as gerações presentes e futuras».

Apesar de breve, o texto é abrangente: os interesses econômicos não devem ter a palavra final; só se pode falar em verdadeiro desenvolvimento onde e quando se respeita a natureza; os bens têm sentido se colocados a serviço de todos. A partir de sua própria etimologia, a “ecologia” fala do amor e do cuidado que se precisa ter pela maravilhosa “casa” que Deus preparou para seus filhos. Ao se referir à criação, por cinco vezes a Bíblia garante que Deus viu que «tudo era bom» (Gn 1,10.12.18.21.25). Na sexta vez, porém, depois de formar o ser humano, Deus foi mais além: constatou que tudo era «muito bom» (1,31).

Infelizmente, a alegria durou pouco e o jardim do Éden se transformou no “paraíso perdido”. É o que confirma a Bíblia algumas páginas mais adiante: «Deus viu que havia crescido a maldade das pessoas na terra e que todos os projetos de seus corações tendiam unicamente para o mal. Então ele se arrependeu de ter feito o homem e ficou com o coração magoado» (Gn 6,5-6). A dor de Deus são as trevas que obscurecem a razão de seus filhos: gritam contra a devastação das florestas, mas nada fazem contra a degradação que arrasa a sociedade; combatem a poluição que envenena a atmosfera, mas incentivam o relativismo moral; constroem hospitais sofisticados para animais, mas deixam seus irmãos morrerem sem assistência; cuidam das praças no centro, mas esquecem as multidões que sobrevivem do lixo nas periferias…
O cuidado com o meio ambiente só não é hipocrisia se espelha a ecologia da alma. Foi a mensagem defendida por Jesus diante das lideranças judias de seu tempo, que haviam transformado a religião numa lista de 613 normas, desconectadas com a realidade e alheias à conversão: «Bem profetizou Isaías sobre a hipocrisia de vocês, quando escreveu: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. O culto que me prestam é inútil, pois o que ensinam não passa de preceitos humanos”. Escutem todos e compreendam: não há nada fora do homem que, ao entrar nele, possa contaminá-lo, porque não lhe penetra o coração. É o que sai da pessoa que a contamina. De fato, é do seu coração que saem as más intenções, a imoralidade, os roubos, os assassinatos, o adultério, a cobiça, a malícia, as trapaças, a devassidão, a inveja, a calúnia, a arrogância, as bobeiras» (Mc 7, 6.18.20-22).

«Uma coisa fazer e não esquecer a outra» (Mt 23,23) foi a solução indicada por Jesus. E é também o pensamento do Papa Bento XVI, expresso na mensagem que redigiu para o “Dia da Paz”, de 2010: «É cada vez mais claro que o tema da degradação ambiental questiona os comportamentos de cada um de nós, os estilos de vida e os modelos de consumo e de produção hoje dominantes, muitas vezes insustentáveis do ponto de vista social, ambiental e econômico. Faz-se necessária uma mudança de mentalidade, que leve todos a adotar novos estilos de vida, onde a busca do verdadeiro, do belo e do bom e a comunhão com os outros homens, em vista do crescimento comum, sejam os elementos que determinam as opções do consumo, da poupança e do investimento».

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo da Diocese de Dourados

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