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Se, na Igreja, ninguém é insubstituível, seja bem-vindo, Dom Henrique!

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06/01/2016 13h08

Se, na Igreja, ninguém é insubstituível, seja bem-vindo, Dom Henrique!

Em sua ânsia de renovar a Igreja, para que nela transpareça cada vez mais a verdadeira face de Cristo, no dia 3 de julho, num discurso na Praça São Pedro, diante de 30.000 pessoas, o Papa Francisco abordou um assunto espinhoso: quanto tempo um eclesiástico pode ficar no cargo: «Sejamos claros. O único que não pode ser substituído na Igreja é o Espírito Santo. Deveria haver um limite de tempo para os cargos na Igreja que, na verdade, são cargos de serviço».

Deixando claro que seus comentários não se restringiam ao clero, mas a todos os fiéis, o Papa acrescentou: «É conveniente que todos os cargos na Igreja tenham um limite de tempo. Na Igreja, não há líderes vitalícios. Isto só ocorre em países onde há ditadura».

Francisco, de 79 anos, já deu a entender mais vezes que está pronto a renunciar, ao invés de ficar até o fim da vida, se perceber que não tem condições de continuar liderando a Igreja por razões de saúde ou outras. Foi, aliás, o que fez, em fevereiro de 2013, o antecessor de Francisco, Bento 16. Em uma entrevista à televisão mexicana em março deste ano, Francisco disse que o que Bento fez «não deveria ser considerado uma exceção, mas uma instituição».

Dizíamos acima que, «em sua ânsia de renovar a Igreja, para que nela transpareça cada vez mais a verdadeira face de Cristo», o Papa Francisco quer que suas lideranças não se prendam a nada que os impeça de serem livres e desapegados em seu ministério: livres e desapegados dos bens materiais, mas também – e sobretudo, do poder e do autoritarismo – a exemplo de Cristo que, «sendo Deus, renunciou ao direito de ser tratado como Deus, esvaziou-se de si mesmo e fez-se servo de todos» (Fl 2, 6-7).

Para alguns psicólogos, a tentação do poder supera qualquer outra, até mesmo o apego aos bens materiais e ao prazer sexual. Pelo complexo de inferioridade que atinge a maioria das pessoas, busca-se com sofreguidão o poder, pensando que, com ele, nos tornamos importantes, necessários, indispensáveis.

Até mesmo na Igreja Católica, não poucas vezes, quando somos eleitos bispos e párocos (para não falar de outras lideranças religiosas), não poucas vezes ouvimos frases que não se sabe se nos devem fazer rir ou chorar: «A Diocese (a Paróquia, a Congregação, o Movimento, a Pastoral, etc.) não estava bem. Mas, graças a Deus, agora estou eu aqui para dar um jeito».

Custa-nos sair da cena. A tentação constante de todos, desde crianças até a velhice, é serem o centro das atenções. Por isso, desapegar-se do poder é atingir o cerne do Evangelho e da santidade: «Quem não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo» (Lc 14,33). A tendência geral é construir um ninho, onde, devagarzinho, vamos nos sentindo em casa, confortáveis e seguros. E de repente, deixar tudo para iniciar uma nova experiência, às vezes totalmente desconhecida, não é fácil.

Mais difícil ainda é a situação dos idosos – o meu caso! Habituados a tomar decisões, a “mandarem”, a serem os “primeiros”, de uma hora para outra se veem relegados atrás dos bastidores. Alguns deles, ao alcançarem a tão esperada aposentadoria, definam e morrem.

Há pouco tempo recebi um livro escrito pelo monge Anselm Grütt, intitulado: “A sublime arte de envelhecer”. Já que todos precisamos aprender estar arte, pois basta nascer para ir envelhecendo, encerro meu artigo com uma de suas reflexões: «Na velhice, mostra-se com mais clareza e precisão se alguém realmente se aceitou.

Algumas pessoas se aceitam enquanto têm sucesso, são requisitadas, são estimadas e são o centro do interesse geral. Mas, quando ninguém mais liga para elas, começam a se lamuriar e queixar. Fica claro, então, que elas mesmas não se aceitaram. Construíram sua vida sobre o reconhecimento dos outros, derivando disso seu sentimento de valor próprio. Na velhice só conseguiremos aceitar a nós mesmos se tivermos construído nossa vida sobre um fundamento mais sólido, isto é, se estiver construído sobre Deus.

No profeta Isaías encontramos um belíssimo texto que expressa esta fé de que, apesar da velhice, continuamos vivos e sempre recebemos novas forças de Deus para aceitar nossa vida: «Jovens podem cansar-se e estafar-se, guerreiros de elite podem tropeçar e cair, mas os que esperam no Senhor renovam suas forças, voam nas alturas como as águias, correm e nãos e fatigam, caminham e não se cansam» (Is 40,30s)».
Por isso, novamente, se na Igreja ninguém é insubstituível, seja bem-vindo, Dom Henrique!

Dom Redovino Rizzardo

Artigo publicado originalmente na revista ‘O Elo’ de Janeiro e Fevereiro/2016.

Dom Redovino Rizzardo, cs

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