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Uma Igreja em estado de conversão

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Uma Igreja em estado de conversão

Por Dom Redovino Rizzardo

Costuma-se dizer que, com o andar da carroça, as abóboras se ajeitam. É o que está se verificando também em relação ao Papa Bento XVI. A cada dia que passa, cresce o número de pessoas que admiram a lucidez e a coragem com que ele detecta as enfermidades e aponta os remédios para que a Igreja e a sociedade cumpram satisfatoriamente com as tarefas que lhes cabem. Foi o que fez também no discurso que pronunciou em Freiburg, no dia 25 de setembro de 2011, durante sua visita à Alemanha. Penso que valha a pena conhecer seu pensamento, ainda mais durante a Quaresma, um tempo privilegiado de conversão. A minha tradução é livre, mas o conteúdo é do Papa.

Há decênios estamos assistindo a uma diminuição da prática religiosa e a um crescente afastamento de grande número de batizados da Igreja. Nasce, então, espontânea uma pergunta: «A Igreja não precisa mudar? Em seus serviços e estruturas, não deve adaptar-se ao tempo presente, para chegar às pessoas de hoje, que vivem num constante estado de busca e de dúvida?»
Certa vez, alguém perguntou à Madre Teresa qual deveria ser a primeira coisa a mudar na Igreja. A sua reposta foi taxativa: «Eu e você!»
Assim se exprimindo, a religiosa ajudou o seu interlocutor a compreender que a Igreja não são tanto os outros, não é apenas a hierarquia: o papa, os bispos e os padres. A Igreja somos todos nós, os batizados. Mas, ao mesmo tempo, ela deu a entender que há realmente necessidade de mudança. Todos os cristãos – e a comunidade que eles formam – são chamados a uma constante conversão.

Em que consiste essa mudança? Trata-se, talvez, de uma renovação meramente exterior, semelhante à que realiza, por exemplo, alguém que reestrutura e pinta a própria casa? Não, no caso da Igreja, a conversão deve ser profunda e ampla, numa constante purificação de seu coração. Somente assim ela poderá ser fiel à missão que lhe cabe levar adiante no mundo.

A Igreja precisa estar atenta e aberta às perguntas, dúvidas e inquietações do mundo, para fazer presente e aprofundar o intercâmbio que se instaurou entre o céu e a terra com a encarnação de Jesus. Infelizmente, por fazer parte da história humana, ela também é tentada a tomar a direção contrária, ou seja, a tornar-se autossuficiente, acomodada e adaptada aos critérios mundanos. É tentada a dar mais importância à organização, à estrutura e à institucionalização do que à espiritualidade, à acolhida e ao serviço, esquecendo a advertência de São Tiago: «A religião que agrada a Deus é esta: socorrer os aflitos e manter-se livre da contaminação do mundo» (Tg 1,27).

É por isso que se deve reconhecer que a história presta um grande serviço à Igreja através das inúmeras secularizações que a investem: elas contribuem para a sua purificação e renovação. Todas elas – a expropriação de seus bens, o cancelamento de seus privilégios, as críticas dos meios de comunicação social, etc. – trazem sempre uma profunda libertação das diversas formas de “contaminação” que tentam maculá-la: a Igreja se despoja de seus bens terrenos para melhor viver e oferecer os bens celestes.

Mas há também outra razão de fundamental importância para reconhecer que chegou, mais uma vez, a hora de se extirpar corajosamente o que existe de profano na Igreja. À medida que se livrar dos empecilhos terrenos, ela terá condições de comunicar aos homens, no campo sociocaritativo – tanto aos que sofrem como aos que os socorrem –, a força vital da fé cristã. Uma Igreja acomodada e rica não consegue perceber a dor, os desafios e os problemas que existem ao seu redor. E, quando isso acontece, ela perde algo que lhe é essencial, como lembrou Bento XVI em sua primeira Encíclica “Deus é amor”, em 2005: «Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia deixar para outras pessoas, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência».

Na verdade – conclui o Papa – se é certo que só uma relação profunda com Deus possibilita uma atenção plena ao homem, da mesma forma, sem uma atenção plena ao próximo, não existe nenhuma relação profunda com Deus. Pois tudo, na vida, é fruto do mesmo e único amor, que tem sua fonte em Deus e seu alimento no serviço aos irmãos.

Dom Redovino Rizzardo, cs
Bispo da Diocese de Dourados

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