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A diferença entre Igreja e cinema

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10/06/2016 07h38

A diferença entre Igreja e cinema

Por : Pe. Crispim Guimarães

A pós-modernidade ou a hipermodernidade, termos usados para definir o modo de vida dos seres humanos no momento, traz consigo tantas inovações que careceria de período mais duradouro para melhor assimilação. O problema pode estar na falta de tempo que hoje se impõe a todos e/ou o seu mau uso. O fato é que estamos cada vez mais ansiosos para realizar coisas, produzir novidades.

Um dos instrumentos mais utilizados nesse processo é a indústria do entretenimento que reproduz relatos da vida real, igualmente produz os mais variados sonhos, o que não deixa de ser uma contribuição para o conhecimento cultural e para relaxar nos momentos estressantes em que está imersa a nossa sociedade.
A hiperatividade social à qual somos submetidos tem chamado a atenção de especialistas, ao ponto de muitos, como a psiquiatra Ana Beatriz, levantar a possibilidade de estarmos desenvolvendo uma personalidade borderline, isto é, viver no limite das emoções e ter problemas para lidar com elas. A sociedade pode estar caminhando para afetos disfuncionais na relação com outras pessoas ou na relação com as coisas.

Sem aprofundar a temática, mas usando-a brevemente para chamar a atenção do discernimento das relações e da utilização das pessoas e ambientes, é comum que nos deparemos com circunstâncias em que esta percepção transpareça. Um exemplo cada vez mais recorrente é a incapacidade de discernir os espaços Igreja e cinema, por exemplo. Desenvolvendo meu trabalho pastoral numa igreja de centro, onde os fiéis são dos mais variados lugares da cidade de Dourados, portanto, um público muito heterogêneo, isto se faz bem perceptível.
Na Catedral de Dourados, graças a Deus encontramos pobres, pessoas de classe média, ricos, negros, brancos, índios, muitas crianças, jovens, adultos, idosos, famílias de distintas configurações. Tal diversidade é motivo de alegria!

Mas existem alguns comportamentos, que não são os mais adequados para o momento da missa, já que é um espaço orante de aproximadamente uma hora. A celebração começa com a invocação da Trindade, precedido pelo canto de entrada; é comum, na Catedral, que cerca de 30% dos fiéis cheguem 10, 20, até 30 minutos depois do início, e alguns não esperam o término da celebração.

É óbvio que cada templo deve acomodar ambientes que observem as várias necessidades dos seus frequentadores, banheiros, bebedouros, etc. O que não significa dizer que uma hora de culto é um tempo exorbitante para que as pessoas não “suportem” permanecer no local sem o uso dos mesmos. Eles estão disponíveis especialmente para necessidades urgentes ou para serem utilizados antes ou depois da missa. Trazer água para dentro do templo, deixando copos e garrafas nos bancos, só se justifica se existir pessoas que passam mal, e/ou idosas. No final de cada missa, podemos nos perguntar se era uma missa ou uma sessão de cinema?
Também é cada dia mais frequente o uso de celulares por crianças e adultos. As crianças usam o aparelho para jogar, os adultos para passar mensagens, e, às vezes, atender chamadas durante a celebração, este sim, vejo como problema sério, porque nem mesmo no cinema isso é permitido. No cinema se come pipocas, demais petiscos, bebe-se refrigerante, na igreja parece que estas práticas estão se popularizando, pois é comum verificar crianças, não tão pequenas, comendo biscoitos, tomando suco. É claro que uma mãe deve dar de mamar à sua criança pequena, é justo!, isso não significa que outras crianças maiores façam o mesmo. Acho muito bonito os pais que inserem os filhos na fé, trazendo-os para a igreja e ajudando-os a viver o momento presente.

O discernimento é uma das características que diferencia o ser humano dos demais animais. É certo que vivemos outros tempos, cheios de novidades e coisas boas, mas é preciso cuidar para preservar aqueles momentos que nos são oferecidos para aquietar o coração, para sair da agitação cotidiana, não fazendo desses espaços privilegiados a extensão daqueles outros que nos colocam no exterior. A igreja é um espaço existencial, mais que físico, que nos proporciona um olhar para dentro, se tudo que acontece fora trazemos para este espaço, ele não vai oportunizar aquela experiência que dizemos buscar num ambiente litúrgico.
Fica a dica sobre o estado borderline, sobre os espaços e sua utilização. A missa é uma festa diferente.

Pe. Crispim Guimarães

Pároco da Catedral de Dourados

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