A Igreja é uma família
Não é raro conversar com especialistas sobre problemas sociais e ver apontadas as causas da violência, da corrupção e da falta de sentido para a vida, sobretudo no âmbito enfoque das relações parentais.
Independente da configuração doméstica, todos nascemos numa família e todos somos profundamente influenciados pela vivência no ambiente familiar. Não podemos afirmar que há famílias ideais, e hoje, um único modelo de família. Há um número variado de situações e formas diferentes de constituir tais relações. Podemos até afirmar, olhando a espantosa diversidade existente no mundo, que Deus não despreza ninguém, ama a diferença, pois todas as pessoas têm espaço no Seu plano criador.
A Igreja respeita este desejo de Deus, embora este necessite se inculturar para oferecer os valores do Evangelho, porque sua missão é reunir todos aqueles que esperam em Deus e almejam viver a mensagem do Senhor. Por isso, embora nem todos tenham a prática eclesial, todas as famílias podem ser Igreja Doméstica, basta que procure vivenciar valores como justiça, fraternidade, e desejam encontrar de coração sincero o sentido transcendente da pessoa e das relações parentais.
Inclusive podem ser considerada Igreja Doméstica aqueles, que embora estejam sós, trazem consigo muitos no coração.
Mas, família é mais que consanguinidade, é necessário incluir todos aqueles com quem vamos criando um ambiente fraterno ao longo da vida pela amizade. Estas pessoas são nossas companheiras nas horas de alegrias e tristezas, porque é na família que se vive os júbilos e os mais profundos sofrimentos. Nela tecem-se laços, conivências, mas não escapamos de rupturas, abandonos e quebras de compromissos.
Quando a família vai mal, todo corpo social se fragiliza, o Estado é o primeiro a manifestar sua debilidade, embora se agigante sobre o povo, não consegue cumprir seu papel social, porque a base está comprometida, a família está doente. No lugar onde deveria surgir saudavelmente a paz e concórdia, surgem os conflitos e rivalidades, no espaço que seria para valorizar as diferenças por vezes dolorosas e difíceis de superar, mas que seria igualmente terreno propício ao perdão e ao recomeço, preponderam doenças, perdas e mortes que causam grande sofrimento, conhece-se a solidão.
O corpo social macro-institucional, o Estado, tem como dever promover a esperança, conter o sofrimento e colaborar no processo de aprender a pensar, porque deveria representar a família e não se impor sobre a mesma.
Se a família fosse geradora de amor, inclusive ressaltando sua crença num Deus amor (Jo 4, 8), faria brotar a esperança junto daqueles que padecem no corpo e no espírito, como fez Jesus ao ressuscitar a esperança de um pequeno povo perseguido e massacrado. Ele nos instruiu a refletir no que verdadeiramente importa. Resistiu contra todos os modos de amargura e apontou a porta da liberdade.
A família é promotora da busca de sentido. Vivemos numa sociedade sem sentido, carregada de tantas angústias, porque não sabemos ler os eventos, observando os sinais que a vida oferece, lendo-os, à luz da mensagem de Jesus, as dimensões importantes da família enquanto Igreja Doméstica.
A Igreja Doméstica está se fechando, pelo materialismo sobre si mesma. Jesus pediu aos seus discípulos a desinstalação, convidou-os e os conduziu à abertura de coração, para abrir as portas e janelas do coração e da casa. A família precisa dos outros, os outros precisam da família, ela é a célula máter da sociedade.
Descobrir a Igreja como família e fazer da família uma Igreja é essencial para renovar as estruturas, cada vez mais afetadas pela violência, pela corrupção e pelo desprezo à vida. Que as alegrias e tristezas dos outros, sejam nossas alegrias e tristezas, para descobrir que somos parte da grande família dos filhos de Deus.
Afirma o Catecismo da Igreja Católica: “a Igreja é casa e família para todos, especialmente para quantos estão cansados e oprimidos”. Que todos encontrem em nós, casa e família uns para os outros.
Pe. Crispim Guimarães
Pároco da Catedral de Dourados
