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A volta dos militares

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A volta dos militares

Numa democracia é necessário aprender a conviver com as diversas linhas de pensamento, de esquerda e de direita, faz parte do xadrez da liberdade de expressão. Mas o assunto já provoca incômodo, sobretudo, quando se fala em golpe, embora acredite que não há espaço, ainda, para tal situação maléfica.

Vi pouco ou quase nada na grande mídia sobre a manifestação que reunião 70 mil pessoas em 2013 reivindicando respeito à família. Há poucos dias, simultaneamente, em várias cidades do país, manifestantes pediam a volta dos militares, tendo como argumento que a nação se encaminha para o comunismo, especialmente, pela sua benevolência diplomática com países como Venezuela, Nicarágua e Cuba, entre outros, onde os direitos humanos, dizem, funcionam somente para aqueles que estão no poder.

Seria insanidade imaginar a volta dos militares, através de um golpe e com a aprovação popular, mas não devemos esquecer que o presidente latino-americano que promoveu a revolução bolivariana, foi um militar, chamado Hugo Chaves, que por sua vez mudou a Constituição para permanecer no poder e só saiu morto. Quais eram suas promessas? Distribuir riquezas, democratizar o país, que – segundo o mesmo – estava nas mãos das elites. Ele tinha razão, a Venezuela, como os demais países do nosso continente continuam nas mãos das elites, infelizmente, só mudou o lado, estabelece-se uma nova elite política que usufrui dos Estados como propriedades particulares. Esta ressalva precisa ser feita, porque no tabuleiro da democracia os radicalismos não ajudam ninguém. Aristóteles dizia que a virtude se encontra no meio, isto é, ela toma distância equivalentemente dos extremos, por isso, pode agir sem pender para ideologias que não visam um projeto de nação, mas de poder.

Porém, preocupa-me a tendência simplista e perigosa que alguns manifestam, como se a solução fosse a volta da ditadura. Que um militar se candidate, não há nada contra na Constituição Federal, que o povo possa elegê-lo, tudo é possível, mas um golpe é demais. A mesma Constituição determina qual o papel das Forças Armadas, não é a substituição do poder civil, “não se cura um doente aplicando veneno na veia”, quem viveu na ditatura bem o sabe.

Todavia, tais manifestações não aconteceriam se atual face do poder estivesse mudando a história. Por isso, a insatisfação começa a preocupar, porque não vendo luz no horizonte a população se deixa influenciar por soluções aparentemente fáceis. No Congresso Nacional dezenas de parlamentares estão em condição de réus, alguns já condenados, nos Ministérios e nos Governos Estaduais inúmeras denúncias contra políticos e o povo ainda elege figuras carimbadas pela corrupção.
Esquecendo-se do passado, algumas pessoas olham o período em que os militares estavam no comando da administração pública, como exemplo de aptidão política e probidade administrativa. Não admiro nenhuma das duas, porque são faces da mesma moeda. Porém, todo cuidado é pouco com está confusão de valores, que está gerando uma herança maldita, que chega até a fortalecer sentimentos totalitários, que a sociedade brasileira há quase três décadas sepultou, com a redemocratização do país. Não podemos cair no falso moralismo, em que se diz, que os “fins justificam os meios”. Não podemos jamais apoiar uma interrupção democrática de um processo histórico de conquistas.

Não precisamos dos quartéis tomando o poder. Precisamos de gritos vindos das ruas, como nas Diretas Já, no impeachment de Collor, onde a cidadania mobilizou os brasileiros e fez ecoar o desejo de novos tempos, prova da consciência do que somos e podemos. Não precisamos de atos de vandalismos, precisamos dos votos vindos das urnas para manifestar a nossa insatisfação.

Pe. Crispim Guimarães

Pároco da Catedral de Dourados

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