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Indonésia, Brasil e “as penas de morte”

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Indonésia, Brasil e “as penas de morte”

No artigo anterior tratei do fundamentalismo, especialmente o que atingiu a França, hoje o tema é diferente, mas nem tanto.

Passada a comoção sobre o atentado no Jornal Parisiense, outro tema mexeu com a população brasileira, a execução de Marco Archer Cardoso Moreira, condenado na Indonésia por tráfico de drogas. Neste caso, penso ser necessário também olhar o fato sob vários ângulos.

O país asiático tem a maior população islâmica do mundo, a imprensa revelou que nos últimos anos mais de 800 terroristas nativos, que mataram inclusive 202 pessoas num único atentado em Bali, em 2002 — a maioria dos mortos não era da Indonésia, foram soltos por ordem da mesma justiça que condenou o brasileiro. É possível questionar qual será o crime mais grave. Terroristas que matam sem piedade, o tráfico também, portanto, a pena deveria ser no mínimo semelhante, mas o fato em questão deixa brechas para desconfiar que o terrorismo, especialmente em países de fé islâmica tem realmente certa proteção, justificado com zelo religioso.

No outro extremo, autoridades brasileiras não esconderam suas contradições, a Presidente se disse indignada com a execução, a ex-ministra dos Direitos Humanos do Governo Dilma disse: “O sujeito não era herói, era traficante,” referindo-se ao interesse pelo local das cinzas do executado. É bom recordar que em vários momentos, o Brasil – nos últimos governos – foi conivente com estes países, não condenado atos de atrocidades contra cristãos, judeus, contra mulheres e outras violências, e a ex-ministra parece revelar exatamente isto, quase que justificando o ocorrido, embora se dissesse contra morte do traficante, logo ela que tanto defende as minorias e os direitos humanos.
Quanto à pena de morte, inúmeras foram às manifestações de condenação feitas pelo mundo afora. Mas para esta sociedade nem toda morte merece o mesmo destaque e comoção, os milhões de inocentes abortados anualmente são condenados sem a defesa da diplomacia de seus países, os presos políticos que morreram fazendo greve de fome em ditaduras islâmicas ou comunistas, pedindo que os direitos humanos fossem respeitados não tiveram tantas defesas, as mulheres apedrejadas por supostas traições ou conversão ao cristianismo, não foram objeto de mobilizações e amparos.

Devemos nos opor a pena de morte em qualquer país e em qualquer caso, inclusive quando aplicada de forma velada, como no caso de aborto ou perseguição política. A comoção pela execução foi gerada por uma ampla divulgação midiática, o que não se repete quando outras atrocidades são cometidas.

Como cristãos, defendemos os direitos humanos de todos, porque Cristo diz “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, não o fazemos por qualquer ideologia. Realmente Marco era um traficante, merecia punição, os terroristas também, os corruptos igualmente, mas quando defendemos a pena de morte, como infelizmente tenho visto nas redes sociais – feita inclusive por cristãos, estamos abrindo à possibilidade de ver na morte a resolução para os problemas da vida, escancarando a mesma barbárie que acusamos os outros de praticarem.

É certo que os malfeitores não prezam pela vida, por isso devem ser punidos com rigor, mas a punição sempre foi um “castigo” para recuperar e nunca para matar. Quem mata o malfeitor com a pena de morte, não pode diferenciar-se dele, é uma forma mascarada de vingança. Talvez porque a vida não é mais a instância suprema para facínoras e, infelizmente também para aqueles que se dizem cidadãos de bem, é que a morte é vista como solução para problemas que nunca foram sanados com séculos de pena capital.

O tempo é de reflexão, de tomada de consciência. Os fatos exigem maior discernimento na hora de falar e agir.

Pe. Crispim Guimarães

Pároco da Catedral de Dourados

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