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Mídia: regulamentação e liberdade

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Mídia: regulamentação e liberdade

Estamos observando de braços cruzados os desmandos dos casos de corrupção na Petrobras. No começo parecia um complô contra a democracia, tramado pela mídia, assim como falavam no episódio do mensalão.
É óbvio que existem exageros na divulgação e no acobertamento de notícias, porém, regulamentar a mídia não pode ser uma quebra de braço para colocá-la de joelho diante de pessoas influentes e seus projetos de poder. A Igreja Católica vê com bons olhos a regulamentação que proíba abusos, mas jamais imagina cercear o direito da liberdade de expressão, mesmo que seja para noticiar fatos desfavoráveis à própria Igreja.
Usar o preceito que a mídia trama contra a democracia, pode ser uma “faca de dois gumes”, sobretudo quando ela revela mazelas nefastas da vida política e social. Os casos de corrupção seriam pouco conhecidos se não fosse o papel informativo da mídia. Muitos deles no começo foram rechaçados como mentira, depois se descobriu que eram verdade.
Reclamei muitas vezes de notícias sobre a Igreja, porque traziam conotações sensacionalistas, mas seria impossível negar que alguns casos abordados pela mídia não ajudaram a mesma Igreja a tomar providências sérias e necessárias. Os casos de pedofilia são exemplos bem claros.
Defender o aprimoramento da mídia não significa “calar-lhe a boca”, ou permitir que seja noticiado só o que alguns grupos querem. Cabe à sociedade melhorar a perspectiva ética para depois cobrar ética midiática. Por exemplo, sobre a Igreja Católica foram feitas várias matérias denunciando casos imorais, o que fez a Instituição? Procurou estabelecer uma “política” de combate aos erros, é o caso da “tolerância zero” estabelecida pelo Vaticano nos acontecimentos de abusos sexuais e financeiros, punindo inclusive, “pessoas de grande influência eclesiástica”.
A Igreja não ficou simplesmente dizendo: “é um complô da imprensa para destruir a vida eclesial”, continua sim dizendo que a mídia precisa melhorar, mas não nega que também a Igreja precisa dar seus passos.
Um dos debates no Brasil, especialmente no ano corrente, é o da regulamentação da mídia. Sobre isso tenho observado que ela é tachada por alguns políticos como a mãe de todos os males brasileiros, isso, porém, não é verdade. Dizer por exemplo, que a corrupção é uma invenção de alguns setores da imprensa, é muita ingenuidade ou má fé, porque é a própria justiça que os têm revelado.
Poucos dias atrás, um jornalista criticou o Papa, e na conclusão disse: “graças a Deus sou de uma religião, que não me excomunga por criticar do seu chefe”. Num mundo plural não existe um só pensamento ideológico e religioso, exigindo que não se critiquem pessoas ou instituições, o que seria estabelecer uma ditadura ou teocracia. Não deixar que a imprensa informe sobre situações antiéticas e imorais é retroceder bruscamente no processo democrático.
O que se faz necessário e urgente é que esta dimensão do poder, denominada por alguns como “quarto poder”, proceda sim, informando, revelando os fatos com ética, que não esqueça a dimensão positiva da sociedade, para não transformar tudo num denuncismo barato.
Regulamentar a mídia não pode ser parte de projeto de poder de governos, que não querem que as “massas” percebam seus atos imorais, aliás, as massas para muitos, precisam viver na escuridão da informação, o que caracteriza censura – fruto de autoritarismo e perda de direitos individuais.
O artigo 19 da Declaração Universal de Direitos Humanos diz “que todos têm direito a buscar, receber e compartilhar informação. Também está previsto aí o direito a receber informação correta de nossos governos e outras autoridades”. Como diz o adágio: “ruim com ela, pior sem ela”. O ruim pode e deve ser aperfeiçoado, jamais censurado!

Pe. Crispim Guimarães

***Pároco da Catedral de Dourados ***

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