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“Não só de pão vive o homem” (Mateus 4,4)

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“Não só de pão vive o homem” (Mateus 4,4)

Abrir ou não o comércio aos domingos e feriados tem gerado muita discussão na cidade de Dourados. O tema é polêmico, recordo-me que ao tratar de algo semelhante anos atrás, referindo-me a abertura do comércio em certos dias, alguém disse que era, inclusive do dinheiro que nossos fiéis ganhavam nestas ocasiões que recebíamos o dízimo.

No Programa que apresento, Ponto de Vista, aos sábados, na Rádio Coração convidei pessoas que de um lado e de outro defendem seu ponto de vista, a discussão foi muito interessante, de certa forma esclarecedora, no entanto, como mediador do Programa, não quis naquele momento expressar meu parecer, simplesmente fiz o papel de jornalista. Hoje, contudo, desejo tecer alguns comentários já que também tenho um papel social de formador de opinião.

A Câmara de Vereadores de Dourados já começou a tratar do assunto, pessoalmente não fui convidado para a discussão, não sei se convidaram o Bispo, o Vigário Geral representando a Igreja Católica, ou o Presidente do Conselho de Pastores, representando as demais Igrejas cristãs. Não é possível tratar deste tema sem ouvir os ministros que representam o cristianismo, porque o domingo é o dia do Senhor. Porém, alguém pode dizer, mas o dia do Senhor é também o dia do homem, por isso, é bom que ele trabalhe. O certo é, o domingo é muito caro para os que acreditam em Jesus Cristo, mudar qualquer regra comercial é também influenciar na religião e na cultura de dois mil anos da prática de fé cristã.
Esta é uma primeira consideração que precisa ser discutida com o segmento religioso, todavia, existem outros critérios que a meu ver precisam ser levados em conta, e aqui não entro no mérito de pesquisas que circulam na cidade, parte de outros pressupostos que salientei no debate na Radio Coração, com Cândido Gimenes, presidente do CDL, Valter Castro, presidente do Sindicom, Antônio Nogueira, presidente da Aced, Pedro Lima, presidente Sindicato dos Empregados no Comércio de Dourados (Secod), Pastor e Vereador Sérgio Nogueira, Benedito Oliveira, Gerente da Lojas Riachuelo Dourados e Carlos Teló, Proprietário da Foz Center em Dourados. Agora o faço não como entrevistador, e sim colunista, sem imposição e sem pretensão de hegemonia religiosa, neste caso as considerações são cidadãs.

Um dos clamores sociais da atualidade é a ausência da família na vida dos filhos, já ouvi de muitos especialistas que, inclusive, muitos casos de delinquência e outras mazelas surgem deste fato. Uma mãe que deixa seus filhos na creche durante a semana ou na escola, porque precisa trabalhar, como fará para manter o contato com sua prole se até no domingo eles (pais) estarão fora? Os pequenos empresários, num dos países que tem uma das maiores cargas tributárias do mundo, terão condições de manter suas portas abertas nesta nova conjuntura? A 25 de março, conhecida rua do comércio paulista não abre aos domingos.

Ontem, 1º de maio, em Belo Horizonte, onde estou fazendo um curso, o comércio não abriu. O poder público vai poder disponibilizar transporte para que esta massa de trabalhadores se desloque? As creches irão funcionar nos domingos e feriados? São perguntas que precisamos fazer e discutir.

Por outro lado há a discussão sobre a criação de mais empregos, pelo fato do shopping e outras grandes redes abrirem nestes dias, além da possibilidade de atrair uma multidão do entorno da grande Dourados que viriam aos domingos, gerando mais riqueza para a cidade. Mais uma pergunta, as pessoas que comprariam aos domingos não seriam aquelas que deixariam de comprar durante a semana, sobretudo aos sábados?

Esta discussão deveria tomar outras proporções, não só da Câmara de Vereados, da própria Prefeitura, das Igrejas, mas do povo, os comerciantes menores e funcionários. O estresse é um dos grandes males da sociedade pós-moderna, sabemos que bares, shoppings, etc. abrem, o que já causa uma demanda importante no processo do esvaziamento da vida familiar, podemos, quem sabe, com mais esta medida aprofundar a situação, por isso, não custa prevenir, antes que remediar, isto é, estudar com cuidado e debater exaustivamente.

Não posso esconder que haverá um esvaziamento da prática religiosa nas diversas Igrejas no dia do Senhor, que é bíblico, não foi invenção minha, se fosse, talvez até pudesse mudá-lo. As nossas missas das 8h e das 10h, por exemplo, repletas de trabalhadores e jovens sofrerão uma evasão sem precedentes e isto eu não posso fazer de contas que não tem nada a ver comigo e com os cristãos em geral.
A vida deve ser constituída do trabalho, do lazer (festa) e, acredito, da religião, quando um destes segmentos deixa de ser valoriza ou se valoriza de modo excedente um deles, a pessoa experimenta dissabores.

Pe. Crispim Guimarães

Pároco da Catedral de Dourados

"Não só de pão vive o homem" (Mateus 4,4)

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