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Não ter filhos como coelhos

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Não ter filhos como coelhos

Recentemente esta frase foi amplamente noticiada pela mídia, tirada do contexto da entrevista do Papa Francisco. Preciso hoje fazer o papel de apologeta para esclarecer, agora sim, no contexto real da fala do Bispo de Roma.

Pessoas muito conhecidas são constantemente ilustradas a partir do que dizem, às vezes corretamente, outras maldosamente. Quero crer que, por não conhecer a linguagem eclesial, certas falas de líderes religiosos, especialmente católicos, são mal interpretadas por pessoas da imprensa. Como se sabe, Francisco é latino-americano, e por isso costuma falar com espontaneidade, usando metáforas que alguns jornalistas aproveitam para criar “furo de reportagem”, mas infelizmente carente de verdade.

Trato deste tema porque nos últimos dias fui abordado por muitas famílias católicas que têm cinco, seis, sete, e até mais filhos. Você não acredita? São famílias residentes em Dourados, e belas famílias. Ficaram aterrorizadas com a frase do Pontífice, já que aos seus ouvidos a fala chegou como uma repreensão aos inúmeros filhos que trouxeram ao mundo.

A referida entrevista, onde o Papa fez esta referência, ocorreu na sua viagem de volta das Filipinas para Roma. Mas exatamente nesta viagem Francisco salientou para a abertura à vida daqueles que desejam casar-se, caso contrário, é causa até de nulidade do matrimônio, fazendo uma referência a encíclica Humane Vitae de Paulo VI.

Nesta carta circular, o Papa Paulo VI falava da paternidade responsável, o que Francisco concorda e repete, ao lembrar que as famílias numerosas são bênçãos de Deus, isso não quer dizer que o cristão deve fazer filhos “em série”, como coelhos. Pronto, foi daqui que partiu a polêmica. Mas o que significa “filhos como coelhos”? A referência a coelhos, que são animais, significa, no contexto da fala do Papa, que é bom ter famílias numerosas, desde que se tenha a possibilidade de sustentá-las. Os coelhos não pensam, ao contrário, colocam filhos quantos possibilitar o acasalamento. O ser humano não pode agir assim.

Quando se referiu a três filhos como algo a ser refletido, o Papa pensou na ciência, sobretudo na sociologia, que constata que três é um número mínimo para manter um povo, não para dizer aos católicos: vocês só podem ter no máximo três filhos. Esta má interpretação, disse uma nota do Vaticano, fez o Papa sofrer.

Ele chegou a se referir, como parte do planejamento familiar para uma paternidade responsável, os métodos científicos que são também naturais, o que os coelhos ou quaisquer outros animais não teriam capacidades de praticar. Chegou também a chamar atenção para a diminuição dos filhos como um problema social, pois no futuro os idosos, que são numerosos no mundo, não terão proteção da previdência social nos seus respectivos países – com baixa natalidade, faltarão trabalhadores para sustentar o sistema previdenciário.

Para não deixar dúvidas, vejam literalmente a frase do Papa: “Sinto alegria de ver tantas famílias numerosas que acolhem tantas crianças que são dons de Deus. Todo filho é uma bênção. Dizer que ter tantas crianças é a causa da pobreza me parece uma opinião simplista”. Com esta frase fica claro que o bispo de Roma não despreza ou recrimina famílias com mais de três filhos.

Uma interrogação permeia minha mente, e talvez a sua. Se os jornalistas ouviram na íntegra a mensagem do Papa, por que proporcionar tamanha confusão? Poderia alguém também perguntar se não seria mais prudente da parte do Papa, imaginar que suas falas, dependendo da sua espontaneidade, provocariam embaraço para o seu Ministério Petrino?

Tenho certeza que o Papa saberá discernir o que deve fazer para continuar falando de temas polêmicos, e ao mesmo tempo, ajudando aproximar a Igreja das pessoas que vivem nas “periferias existências”.

Pe. Crispim Guimarães

Pároco da Catedral de Dourados

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