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Nossa Senhora Aparecida no sambódromo

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24/02/2017 0h

Nossa Senhora Aparecida no sambódromo

Artigo do Padre Crispim Guimarães, pároco da Catedral de Dourados

Carnaval é uma festa popular no mundo inteiro, no Brasil é a festa mais notabilizada de Norte a Sul. E em São Paulo, a Escola de Samba, Vila Maria, quis homenagear a Mãe de Jesus, com o título de Nossa Senhora Aparecida nos 300 anos de sua aparição, denominado pela Igreja Católica como Ano Mariano.

Quem tem coragem de perguntar nas redes sociais o que as pessoas acham do fato, diante de tantas interpretações? Faço aqui só alguns comentários, porque certamente muito se dirá no período do Carnaval sobre o desfile com a Imagem de Aparecida.

Os argumentos contrários, dizem que o Carnaval é uma festa pagã, que não ajuda a viver a fé, além de muitas vezes, no passado ter usado das performances para ridicularizar os cristãos. Não se pode negar que tudo isso tenha ocorrido. Ainda, pensando no presente, muitos criticam a hierarquia da Igreja por aceitar a homenagem, dizendo que as pessoas que conduzirão a Imagem não têm fé e que não estão se importando com a devoção mariana. Como se observa, o assunto é polêmico.

Por outro, e estou propenso a me alinhar a este, sem negar as preocupações sinceras dos demais, em 1992, em Santo Domingos, capital da República Dominicana, os bispos da América Latina, juntamente com João Paulo II, realizaram a 4ª Conferência Episcopal Latino Americana, com a participação também dos bispos da América do Norte. Como fruto foi publicado um Documento, cujo teor principal fala da “Inculturação da Fé”. Para o mundo pós-moderno, talvez seja uma percepção “nova” e interessante da Igreja, porque a fé desde os primórdios, foi mais assimilada, não quando veio pela força aliada aos governos, nem pela imposição cultural. O Novo Testamento traz lindos exemplos da adesão de muitos povos “pagãos” a Jesus Cristo nos primeiros 300 anos da era cristã, sem nenhuma imposição, mas pela inculturação. Porém, a inculturação ressaltada no Documento Episcopal não se confunde com sincretismo ou outros modos de expressões falseadas.

Penso que a autorização dos Cardeais de São Paulo, Odilo Scheres e de Aparecida, na época, Raimundo Damasceno, partiu dessa visão: não condenar preliminarmente, ao contrário, orientar, evangelizar, oportunizando que num ambiente, muitas vezes adverso à fé, algo seja cantado, dançado e manifestado com uma alegria diferente, talvez seja um pequeno sinal para uma multidão que estará presente no Sambódromo.
Antes de rejeitar a homenagem dos idealizadores, a Igreja quis saber as reais motivações, e percebeu que havia uma manifestação de fé e respeito por parte dos dirigentes da referida Escola. Para que houvesse uma manifestação cultural e de fé, foram feitas determinadas exigências, dentre elas que a apresentação seja comportada e sem exibição de nudismo.

O fato é que nas redes sociais e também na imprensa mais circunscrita ao Estado de São Paulo, o assunto virou manchete. É obvio que o desejo inusitado de uma escola de samba homenagear um dos símbolos da fé católica – com respeito, faz uma diferença imensa, já que antes o que muito se viu foram deboches terríveis em relação aos católicos e outras denominações cristãs. Outra novidade é que autoridades eclesiásticas tenham permitido que tal homenagem seja prestada numa festa como o Carnaval.

Talvez, e espero sinceramente, seja a hora de voltarmos a olhar a fé para além das “quatro paredes”, inclusive em ambientes improváveis. Por isso, podemos reclamar daqueles que, segundo nossa visão, vivem no “paganismo”, mas antes temos que propor algo que lhes proporcione uma experiência de Deus, mesmo que seja por meio de aspectos culturais. No entanto, sem ser ingênuo, fé e cultura, não andam em paz faz muito tempo e penso que o caminho ainda é longo.

Pe. Crispim Guimarães

Pároco da Catedral de Dourados

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