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O Ano da Misericórdia e Lutero

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08/07/2016 09h02

O Ano da Misericórdia e Lutero

Por : Pe. Crispim Guimarães

Estamos celebrando, neste ano de 2016, no âmbito do catolicismo, o Ano Jubilar da Misericórdia. Sabemos que em 2017 também o cristianismo evangélico celebrará os 500
anos da “Chamada Reforma”. Um dos convidados ilustres que já confirmou sua presença, é o Papa Francisco. Será um fato inédito, uma celebração partilhada entre
católicos e luteranos. É sempre bom recordar que Lutero recebeu o Sacramento da Ordem, o que significa dizer: era um padre católico. Por isso, o presente artigo baseado na Revista Perspectiva de Comunhão, cujo autor, Pe. Hubertus Blaumeiser, faz uma análise da Misericórdia a partir do reformador.

A inquietação de Lutero sobre as indulgências e o tema da justificação pela graça, são
centrais nas 95 teses por ele proferidas. Mas se esses 500 anos de distância começam a
ficar no passado e agora se ensaia uma reaproximação sempre crescente, é preciso um novo olhar acerca de Deus.

“Como posso encontrar um Deus misericordioso?”, era a pergunta questionadora do
jovem monge agostiniano, Martinho Lutero. Sua pergunta tinha como pano de fundo as
vítimas da peste que assolava a Europa, sem esquecer que a visão de Deus naquele
período era de um juízo temeroso, diante da epidemia que matava assustadoramente; Deus poderia permanecer um impenetrável mistério? Não compreender o divino, sobretudo, provocou a falta de misericórdia que desencadeou o desentendimento 500 anos atrás, agora o Papa Francisco, por meio da bula Misericordiae vultus estabeleceu o Ano da Misericórdia, o que nos aproxima ainda mais.

As interrogações de Lutero também são fruto da efervescência da época, mas pouco
antes de morrer em 1546, assim descreve sua descoberta da Misericórdia: “Então comecei a compreender a justiça de Deus como aquela justiça pela qual o justo vive por dom de Deus e, exatamente, pela fé […] como está escrito: “O justo vive pela fé” [Rm1, 17]. Aqui me senti completamente renascido e como se tivesse entrado, pelas portas plenamente abertas, no próprio Paraíso, lá imediatamente, toda a Escritura me mostrava um vulto diverso”. (Weimarer Ausgabe 54, 185s.). Disto, diz Pe. Hubertus, “decorre que a palavra chave da existência humana não é fazer, mas deixar acontecer, não a ação, mas a fé que coloca toda a sua confiança em Deus e nas suas promessas”. E para quem não sabe, tudo isso foi preservado no Concílio de Trento (1545-1563), chamado de Contra-Reforma, exatamente esta parte, no decreto sobre a justificação.
Depois de um prolongado diálogo entre católicos e luteranos, chegou-se a assinatura da
Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação da parte da Igreja Católica e da
Federação Luterana, realizada no dia 31 de outubro de 1999, caracterizada por diversas
acentuações e diversas explicitações, atualmente não apresenta nenhuma contradição
sobre estes temas que nos possa dividir.

O Ano da Misericórdia traz novamente o tema da Indulgência, desta vez de modo bem
mais profundo. Como para o Ano da Misericórdia e Lutero, esta se concretiza numa
pessoa: em Cristo crucificado, a Misericórdia do pai.

Com relação àquilo que o monge agostiniano já tinha escrito alguns anos antes em uma
carta dirigida a um irmão de sua Ordem Monástica: “Como Cristo te acolheu e fez seus
os teus pecados e fez tua a sua justiça […] assim, você também deve acolher os irmãos
[…] suportá-los com paciência e fazer teus todos os seus pecados e, se tens algo de bom,
faz com que se torne deles”. Muito mais as divergências, a misericórdia deve ser
comunicada, porque ela revela a face de Deus. Oxalá que isso possa dar um impulso
também ao relacionamento entre as Igrejas.

Pe. Crispim Guimarães

Pároco da Catedral de Dourados

O Ano da Misericórdia e Lutero

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