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Os cristãos e o marxismo

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Os cristãos e o marxismo

O marxismo é uma ideologia política econômica que surgiu em contraponto ao capitalismo, evidenciada, sobretudo por Karl Marx e Friedrich Engels. Como sabemos ambos são do século XIX, o cristianismo por – sua vez – nasceu com Jesus Cristo, quase 1.800 antes destes pensadores. Por isso, de imediato é possível dizer que os cristãos não eram marxistas/socialistas, e tem mais, Marx e Engels não acreditavam no cristianismo, para eles a religião “é o ópio do povo”.

É preciso muita criatividade para afirmar que os primeiros cristãos eram marxistas. As doutrinas marxistas aplicadas nos seus fundamentos geraram sistemas radicais comunistas. Os países que a preservam continuam duros contra as liberdades individuais e, atualmente muito coniventes com a economia de mercado capitalista. A China é o modelo mais evidente deste modelo.

Existe alguma coisa em comum entre cristianismo e marxismo? Sim, mas o capitalismo também tem elementos em comum e, como o socialismo, muitos elementos distantes. Ao comparar e diferenciar cristãos de marxistas são necessárias algumas considerações.

Para justificar sua proximidade muitas pessoas usam textos bíblicos, especialmente do Novo Testamento. Mateus 21,12-16 cita Jesus que expulsou os mercadores do templo, neste caso eles profanavam o Templo, que era casa de oração e não de comércio. Isso não quer dizer que Jesus tinha algo contra o trabalho e o comércio, pois Ele mesmo era carpinteiro e seus seguidores pescadores, suas parábolas são ricas de relatos agrícolas, vinhas e seus proprietários. Jesus diz que o trabalhador merece o seu salário. Fala do “Criador” que deu 10 talentos a um, 50 e 100 a outros (Mateus 25, 14-30).

Jesus predica sobre a necessidade de deixar as riquezas, diz que é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha que um rico entrar no céu. É fato, é preciso deixar tudo para se colocar no caminho do Senhor, mas o pobre também não pode ficar apegado ao pouco que tem e nem às próprias ideias, no Reino de Deus a categoria pobreza vai além dos bens materiais. A pergunta do jovem rico: “Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna?” A resposta correta é: nada; porque a salvação é pela graça, depois da graça assumida vêm as obras (Tg 2,14-17).

Com suas perguntas Jesus quis que o jovem pensasse novamente sobre a questão, porque a vida eterna – em Deus – não é algo que alguém faz por merecer, cumprindo essa ou aquela regra. Não é algo que os ricos podem comprar com suas riquezas; nem tampouco “ganhar” dando suas riquezas aos pobres. Não é só deixar a riqueza, é preciso seguir Jesus. Os socialistas ou capitalistas estão dispostos a fazê-lo? Sim a resposta for positiva, têm tudo a ver com o Evangelho. Por isso, os discípulos que ali estavam perguntaram: “Sendo assim, quem pode ser salvo?” Jesus respondeu: “Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível”.

Na narrativa da Igreja nascente descrita nos Atos dos Apóstolos 2, 42-47, diz que os primeiros cristãos colocavam seus “bens em comum”. Esta prática era livre e não forçada, as pessoas colocam em comuns seus bens, não por uma imposição do Estado, não existia uma classe privilegiada que se servia da partilha de muitos para o bem de um grupo, que no marxismo se expressa pela Politburo (Comitê Central do Partido Comunista) e no capitalismo pela concentração de renda.

Rui Barbosa, grande pensador e diplomata brasileiro, disse que “O comunismo não é a fraternidade; é a invasão do ódio entre as classes. Não é a reconciliação dos homens; é a sua exterminação mútua. Não arvora a bandeira do Evangelho, bane Deus das almas e das reivindicações populares. Não dá trégua à ordem. Não conhece a liberdade cristã. Dissolveria a sociedade. Extinguiria a religião. Desumanaria a humanidade. Everteria, subverteria, inverteria a obra do Criador”.

Obviamente que o capitalismo no que se refere à religião não produz outro fruto. Ambos os sistemas procuram tirar Deus do coração do homem, um coloca as coisas materiais no centro, o outro coloca o Estado e sua estrutura, por isso, não corresponde ao ideal de vida cristã. O cristianismo quer que o homem ganhe a eternidade, mas que não se esqueça da vida na terra. O coração em Deus, mas já experimentando o céu aqui, promovendo a fraternidade universal.

O Papa Francisco recentemente afirmou que a Doutrina Social da Igreja em nada pode ser comparada com o socialismo, mas também criticou duramente o império do dinheiro. Os direitos sociais, presentes no catolicismo não tem a ver com ideologias, mas com a Doutrina Social da Igreja. Se estas duas ideologias produzissem trabalho digno, educação de qualidade, distribuição dos bens, liberdade individual, fariam algo que está presente no Evangelho, mesmo assim, faltar-lhes-ia a dimensão da vida eterna.

Padre Crispim Guimarães

Pároco da Paróquia Imaculada Conceição, Catedral de Dourados

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