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Um pobre que morre…

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Um pobre que morre…

Quanto vale uma pessoa? Olhando grosseiramente a pergunta, talvez haja impacto por fazer pensar que o ser humano é um objeto de compra e venda.

Infelizmente as pessoas, com o imaginário cotidiano permeado pela lógica do lucro, têm dificuldades de olhar a humanidade como de fato “É”. Na universidade de Quito, Equador, o Papa Francisco repetiu a pergunta feita a Caim no livro do Gênese 4, 9, aos professores, alunos e convidados – “Caim, onde está o teu irmão?” Pergunta similar aparece no Evangelho de Lucas 10, 29: “quem é o meu próximo?”
Sendo irmão, sua função é respeitar e guardar o outro, mas não, esquecendo a sua própria humanidade, tira-lhe a vida, como se o outro fosse nada. Na passagem do Evangelho de Lucas, um jurista quer ganhar a vida eterna, Jesus manifesta as condições para tal conquista, é preciso “amar o próximo como a si mesmo”, incomodado com a resposta, questiona sobre “quem é o próximo”?.

Este contexto bíblico é também social, e foi por isso que Francisco perguntou ao mundo universitário, recordando um fato, que muito provavelmente acontece nas nossas cidades, bem perto das nossas casas e para o qual fechamos os olhos. Disse o Papa: numa rua pertinho do Vaticano, há poucos dias um morador de rua morreu de frio, a imprensa não noticiou uma palavra se quer (mas o Papa soube, porque está próximo), no entanto, disse ele, quando a bolsa de valores cai meio ponto, cria-se um alvoroço, um nervosismo financeiro que parece afetar a todos.

Faz-nos pensar na lógica do ser humano pós-moderno, marcado pela tecnologia, pelo “bem-estar” social, pelas facilidades e prazeres, preocupando-se com o macro da vida, contudo esquecendo o que está à sua frente, que se organiza em grupos para enfrentar a injustiça, mas não é capaz de olhar um palmo além do nariz.

É evidente que uma pessoa só – não pode resolver os problemas do mundo, mas se muitas pessoas tivessem um olhar de proximidade para estes que estão morrendo ao nosso lado, muito seria mudado. Se um ser humano valesse mais que meio ponto na bolsa de valores, morreriam muito menos irmãos por descuidos banais.

Um olhar que não é marcado pela proximidade, cega a percepção. Na Encíclica “Laudato Si”, há uma denúncia do Papa sobre a ecologia humana, exatamente que fala do próximo mais indefeso, aqueles que são abortados como descarte humano, nos comentários sobre a o documento papal, que são muitos, inclusive com elogios da Organização das Nações Unidas, ONU, ninguém fala deste ponto, prefere-se falar de uma árvore, que é importante certamente, mas que jamais pode ser comparada a um ser humano.

Um indefeso que morre vale pouco, ele não é considerado gente, não passa de uma coisa para esta sociedade muito preocupada com o acumulo de bens materiais e do saber. Embora haja a individualidade, somos parte de um todo. O ser humano, pela faculdade racional, deve cuidar de si e do outro, mas enquanto perdurar o pensamento do descartável seremos todos vítimas da nossa própria ganância e indiferença.

Pe. Crispim Guimarães

Pároco da Catedral de Dourados

Um pobre que morre...

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