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Pedofilia na Igreja: esmaguem a Infame!

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Dom Redovino

No dia 25 de março, o jornalista Hélio Schwartsman publicou na “Folha de São Paulo” um artigo a quem intitulou “Santa pedofilia” – talvez em referência a algumas religiões da antiguidade que, ao lado de seus templos, incentivavam a prostituição sagrada. A partir dos escândalos cometidos por sacerdotes e religiosos em vários países, ele questiona aspectos da legislação e da doutrina católica, sobretudo o celibato, afirmando que tais fatos não acontecem, com a mesma intensidade, em outras instituições civis e religiosas.

O artigo se soma a inúmeros outros que, nestes últimos anos, ocupam a imprensa internacional, colocando em luz fatos desairosos da hierarquia eclesiástica, que estariam se multiplicando em toda a parte, a cada dia que passa. Essa avalanche de notícias e de comentários escabrosos relacionados com a vida sexual dos padres e religiosos pode ser fruto do desejo de transparência e autenticidade que se deseja ver na Igreja Católica; mas pode também ter como origem uma morbosidade psíquica que faz com que a transgressão atraia mais do que a lei e a ordem; ou ainda a vontade de se desvencilhar de tudo o que se opõe à liberdade, em qualquer acepção se queira tomá-la. Nesse sentido, por ser vista como uma espécie de superego da humanidade, a Igreja é alvo da fúria de quantos fazem seu o grito de Voltaire e do Iluminismo: “Esmaguem a Infame”.

As censuras e, não poucas vezes, as calúnias contra os padres acabam por levar as pessoas menos esclarecidas a ver em todos eles um bando de criminosos ou doentes mentais. Em sua carta aos católicos da Irlanda, enviada no dia 19 de março, Bento XVI não nega o pecado da pedofilia na Igreja. Mesmo sabendo – como atesta João Pereira Coutinho, outro jornalista da “Folha”, em artigo do dia 23 de março – que, em sua pátria, a Alemanha, das 210.000 denúncias de abusos a menores aparecidas desde 1995, somente 300 se referem a sacerdotes católicos (ou seja, menos de 0,2%), ele reconhece que o mal existe e exige uma tomada de posição séria e radical: «Na realidade, o problema do abuso dos menores não é específico nem da Irlanda nem da Igreja. Contudo, a tarefa que agora nos cabe é enfrentar a situação com coragem e determinação».

Mas, o que o Papa não imaginava, aconteceu: em meados do mês de março, ele também entrou no rol dos acusados. Primeiramente, porque, em 1980, como arcebispo de Munique, acolheu um sacerdote pedófilo de outra diocese, para que fosse submetido a uma terapia, numa clínica especializada. No final de 1981, João Paulo II nomeou-o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em Roma. Nesse ínterim, seu vigário-geral anuiu ao pedido do incriminado e lhe permitiu que residisse numa paróquia como auxiliar do pároco – o que se demonstrou um erro, já que o padre não conseguiu se manter fiel a seus compromissos. O segundo caso aconteceu em 1996, enquanto o Cardeal Ratzinger exercia a sua função no Vaticano. Através de cartas enviadas por um bispo norte-americano, ele soube que um sacerdote abusara de 200 garotos surdos entre os anos de 1950 e 1974. Só que a notícia lhe chegou 22 anos após o término das prevaricações, e nada mais se pôde fazer, pois o padre já estava moribundo (faleceu no dia 21 de agosto de 1998).

Por se compor de santos e de pecadores, a Igreja será sempre «um sinal de contradição, causa de queda e de salvação para muita gente» (Lc 2,34). Por isso, mais do que lembrar que a pedofilia acontece em toda a parte e em todos os segmentos sociais, sobretudo dentro das quatro paredes domésticas, e que só pode «jogar a primeira pedra quem não tiver pecado» (Jo 8,7), ela é convidada a descobrir nessa crise e nessa onda de difamação contra ela, um apelo à conversão. Se isso acontecer, a fúria da mídia, a longo prazo, terá efeito contrário, colaborando para o surgimento de padres mais afinados com a vontade de Deus e as necessidades do povo.
Para Bento XVI, o enfraquecimento da fé contribui de modo significativo para o crescimento dos abusos sexuais. Distanciando-se dela, a humanidade perde um de seus referenciais. É o que acontece quando se declaram tabus e preconceitos o que antigamente era considerado virtude e valor. Ninguém se espante, por isso, se, num dia não muito distante, a pedofilia deixará de ser crime. Aliás, não é isso que querem certos programas de televisão ao incentivar atores-mirins a assumir atitudes e comportamentos próprios de adultos – adultos desavergonhados! -, com manifestações sensuais e eróticas que se transformam em chamariz para psicopatas que sofrem do problema? E o que pretendem as badaladas pulseiras do sexo senão impingir às crianças e adolescentes uma maldade que ainda desconhecem?! (Desconhecem?!).

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