Início Notícias É fácil ser padre?

É fácil ser padre?

0

12/05/2017 12h06

É fácil ser padre?

Artigo : Pe. Crispim Guimarães

Não é fácil ser gente! Ser padre, ser casado, solteiro, tudo tem suas implicações. A vida não é fácil, pode ser menos difícil, quando se ouve a voz de Deus.

Certa feita escrevi um artigo cujo título era: “Povo faz padre deixar o ministério sacerdotal”, muitas pessoas leram somente o título, até um radialista chegou a divulgar que eu teria deixado o Ministério Sacerdotal, também alguns padres da diocese de Dourados receberam a notícia desta forma, o que provocou um enorme susto.

O resumo do referido artigo, falava que uma das maiores dificuldades de alguns padres hoje, não é tanto viver com poucos recursos ou até mesmo não casar, mas enfrentar o relativismo religioso dominante, onde cada um decide que o que vale são suas próprias regras e que a igreja a elas deve se submeter, alguns chegam a propor que a igreja minta sobre certos assuntos doutrinais, o que caracteriza corrupção. Isso não quer dizer que padres não são pecadores e que estão sempre certos.

O sacerdócio católico é igual para todos os padres, em qualquer parte do mudo, mesmo em culturas diferentes, não existem duas leis. Existem países com poucos fiéis, neles o padre vive a solidão de ter poucos a quem dedicar a vida, é o caso da Europa secularizada; no Oriente Médio e países comunistas, existem comunidades católicas pequenas e médias, porém atuantes e participativas, neste caso, o problema é a perseguição aos seguidores de Cristo. Em outros lugares há carga excessiva de atividades, que leva até 12 horas ou mais de trabalho diário, provocando um cansaço espiritual, físico e psicológico.

Vejo com bons olhos, a perda de “prestígio” exagerado que outrora se dedicava ao padre, só pelo fato de ser ordenado. Não fomos chamados a sermos detentores de prestígio, mas dispensadores dos mistérios do Reino, o que exige saber dizer sim e não com responsabilidade, o que pode levar à solidão, tristeza e vazio, dependendo da maturidade de fé de cada sacerdote. O povo não é o fim do sacerdócio, o fim último é Jesus Cristo, e por sua causa, o povo se torna prioridade, o povo pelo povo fará com que o padre seja pautado não pelo Evangelho, mas pelos seus próprios caprichos e/ou das pessoas.

Para continuar se doando, o padre não pode olhar se o lugar é pobre ou rico, se as pessoas são brancas ou negras, se são muitos ou poucos fiéis, mas fixar o olhar em Cristo, por isso, uma certa solidão é necessária e salutar. Sem estes pressupostos, e ainda mais imerso na sociedade pós-moderna, terá “uma vida sem raízes e sem qualidade de relações sociais”.
O padre poderá desenvolver doenças psíquico-espiritual e física, sobretudo, quando houver afastamento de Deus, também quando se afastar exacerbadamente das pessoas que lhes são confiadas por Deus.
Existe uma “separação” natural que o sacerdote tem do mundo, mas não pode se tornar um isolamento sofrido, um abandono, tem que ser algo sadio. Por isso, os leigos que se fazem amigos dos padres têm um papel essencial para sua saúde espiritual, porque “há pessoas que vão à igreja como se fossem ao supermercado, como se o padre oferecesse alguns produtos sagrados. Elas se esquecem de que o padre também é uma pessoa,” não é Deus, não é anjo e tem um ministério a desempenhar.

Se a fixação do padre não for Cristo, três deuses lhe possuirão: o poder, a luxúria e o dinheiro, estes podem até camuflar uma depressão e outras doenças físicas, mas são igualmente perigosas.
Por isso, hoje me lembro de que entrei no seminário com 25 anos de idade, antes, sempre cobrei a santidade dos padres por onde passei, mas não me recordo de ter rezado e os ajudado a serem santos. Eles tinham que testemunhar, mas eu me achava livre desta obrigação como leigo.

O Papa Francisco nas primeiras palavras após sua eleição, pediu orações para si, sabendo que o ser Papa, bispo ou padre não exime a comunidade cristã do papel de colaborar para a santificação de seus ministros. Rezemos uns pelos outros, os padres têm o dever de ajudar seus irmãos fiéis no processo de crescimento da fé, mas a recíproca também é verdadeira. Somos todos Igreja!
Ser padre não é fácil, contudo é fácil ser casado e cristão autêntico?

Pe. Crispim Guimarães

Pároco da Catedral de Dourados

Sair da versão mobile