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O importante é achar um culpado

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O importante é achar um culpado

O Brasil sempre foi questionado sobre a sua capacidade de ser uma Pátria para todos. A crítica recorrente é que uma pequena elite detém nas mãos as riquezas e os destinos da nação. Antes do golpe militar que levou à ditadura iniciada nos anos 60, vários movimentos sociais se levantam com o propósito de discutir os alicerces que colocava à margem grande parte da população.

É preciso dizer, no entanto, que muitos movimentos, ditos sociais, na realidade tinham um projeto de poder, com o firme desejo de instalar uma ditadura comunista, que aos poucos está voltando ao continente, mas é fato que uma parte significativa dos que reivindicavam igual tratamento a todos, queriam um país mais justo.

A Igreja Católica incontestavelmente contribuiu muito para a tomada de consciência sobre muitos processos injustos, como o uso da terra, os direitos das classes trabalhadoras, no entanto, sua visão nunca foi a partidarização das lutas, ou a divisão de classes, levando-as ao enfrentamento pela violência ou difamação. Ontem e hoje, a Igreja Católica sempre procurou defender os sem defesa. No momento, existem inúmeros movimentos sociais que se propõem defender os chamados pobres.

Porém, a Igreja não deseja fazer justiça provocando injustiças, seria uma contradição, por isso, embora algumas realidades se assemelhem as causas que defendem outras instituições, nossa defesa parte do Evangelho. Com estranheza recebi telefonema de um produtor católico de Laguna Carapã, que relatou uma reunião realizada com outros produtores na cidade de Ponta Porã, segundo o mesmo, um antropólogo, que trabalha numa instituição que representa os produtores, usando a palavra acusou a Igreja de ser a grande mentora da possível demarcação das terras indígenas no Mato Grosso do Sul, inclusive afirmando: “esta Igreja vai pedir vacas e soja para vocês depois manda os índios invadirem suas terras, manda também a FUNAI e CIME se colocarem contra vocês”.

Ora, embora a Igreja realmente não possa se negar a verificar que a situação indígena é grave, e que no passado o Estado brasileiro cometeu injustiças, pois desalojou muitos destes povos de suas terras tradicionais, a mesma Igreja tem trabalhado para que os proprietários que compraram suas terras legalmente, não sejam prejudicados. Eu mesmo, quando Coordenador de Pastoral da Diocese de Dourados, promovi encontros entre índios, Famasul, FUNAI, CIME, Ministério Público, para indicar possíveis soluções mais justas a ambos os lados.

Nossa convicção é que os índios são injustiçados, mas também estamos convictos que aqueles que têm terras, fruto da legalidade não podem ser prejudicados, aliás, disse-me exatamente isso Dom Antonino Migliore, Bispo de Coxim e Presidente da Região da Oeste 1, da CNBB, sábado, 20 de abril, no programa “Ponto de Vista”, na Rádio Coração, quando salientou que recebia com surpresa tal acusação. A Igreja defende, se houver prova de que a terra é indígena, que o proprietário seja indenizado pelo valor de mercado e não somente pelas benfeitorias.

Estas notícias nos causam surpresa, pois não temos relatos que padres andem por aí incentivando invasão de terras e dizendo que esta ou aquela propriedade deve ser demarcada, maior surpresa ainda é imaginar que a Igreja tenha tanta influência entre os indígenas, já que menos de 5% deles professam a fé católica.

O que deixa transparecer certos comportamentos é que o conflito interessa a grupos bem organizados, a luta de classe para alguns é o melhor subterfúgio para esconder os reais problemas que afligem os povos.

Pe. Crispim GuimarãesPároco da Catedral – Dourados.

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