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“Fui escolhido sem qualquer mérito e, com temor e tremor, venho até vós como um irmão que deseja fazer-se servo da vossa fé e da vossa alegria, percorrendo convosco o caminho do amor de Deus, que nos quer a todos unidos numa única família”, disse o papa Leão XIV na missa de início do seu pontificado celebrada hoje (18), na praça de São Pedro, no Vaticano.
A cerimônia começou no Altar da Confissão, que fica no centro da Basílica de São Pedro, no Vaticano, onde fica o baldaquino de Gian Lorenzo Bernini. O papa Leão XIV desceu as escadas com os Patriarcas das Igrejas Orientais até o túmulo de São Pedro, onde fez uma pausa para rezar por alguns minutos. Em seguida, ele incensou o Trophæum Apostolicum, o monumento que assinala o túmulo do primeiro papa e a pedra sobre a qual Cristo construiu sua Igreja.
Depois, ele seguiu em procissão até o altar da celebração na Praça de São Pedro enquanto era cantado o Laudes Regiae, antigo hino litúrgico de aclamação ao novo papa.
O Evangelho foi proclamado em duas línguas, grego e latim, como símbolo para expressar a unidade da Igreja e destacar que o sucessor de Pedro é o papa dos católicos latinos e orientais.
Perto do altar foi colocada a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho, do santuário mariano de Genazzano, aonde Leão XIV foi no sábado, 10 de maio, para sua primeira visita surpresa, dois dias depois de ser eleito.

Na porta da Basílica de São Pedro, uma tapeçaria flamenga retratava o diálogo entre Jesus e Pedro depois da pesca milagrosa. Criada para a Capela Sistina, a obra teve como inspiração um trabalho de Rafael Sanzio e atualmente está preservada nos Museus do Vaticano.
Igreja Unida, fermento para um mundo reconciliado
Na homilia, o papa deu o tom de seu pontificado ao destacar que “amor” e “unidade” são as duas dimensões da missão que Jesus confiou a Pedro.
“Gostaria que fosse este o nosso primeiro grande desejo: uma Igreja unida, sinal de unidade e comunhão, que se torne fermento para um mundo reconciliado”, disse.
Por isso, lamentou que haja “discórdia” no mundo e “demasiadas feridas causadas pelo ódio, a violência, os preconceitos, o medo do diferente, por um paradigma económico que explora os recursos da Terra e marginaliza os mais pobres”.
“E nós queremos ser, dentro desta massa, um pequeno fermento de unidade, comunhão e fraternidade”, disse.“Queremos dizer ao mundo, com humildade e alegria: Olhai para Cristo! Aproximai-vos d’Ele! Acolhei a sua Palavra que ilumina e consola!”, continuou. “Escutai a sua proposta de amor para vos tornardes a sua única família. No único Cristo somos um”.
“Este é o caminho a percorrer juntos – entre nós, mas também com as Igrejas cristãs irmãs, com aqueles que percorrem outros caminhos religiosos, com quem cultiva a inquietação da busca de Deus, com todas as mulheres e todos os homens de boa vontade – para construirmos um mundo novo onde reine a paz”, disse o papa Leão XIV.
“Este é o espírito missionário que nos deve animar, sem nos fecharmos no nosso pequeno grupo nem nos sentirmos superiores ao mundo; somos chamados a oferecer a todos o amor de Deus, para que se realize aquela unidade que não anula as diferenças, mas valoriza a história pessoal de cada um e a cultura social e religiosa de cada povo”, continuou.
Leão XIV citou o papa Francisco, que, depois de sua morte, “encheu os nossos corações de tristeza” e fez-nos sentir “como ovelhas sem pastor”.
“Precisamente no dia de Páscoa, recebemos a sua última bênção e, à luz da ressurreição, enfrentámos este momento na certeza de que o Senhor nunca abandona o seu povo, mas congrega-o quando se dispersa e guarda-o ‘como o pastor ao seu rebanho'”, disse ele.

Saber enfrentar as interrogações, inquietações e desafios de hoje
Ele também falou do espírito de fé com que os cardeais se reuniram para o conclave, chegando “com histórias diferentes e a partir de caminhos diversos” para eleger o novo sucessor de Pedro, o bispo de Roma. E deixou claro que buscavam um pastor “capaz de guardar o rico património da fé cristã e, ao mesmo tempo, de olhar para longe, para ir ao encontro das interrogações, das inquietações e dos desafios de hoje”.
O papa Leão XIV elogiou o processo de eleição concluído em 8 de maio. “Sentimos a ação do Espírito Santo, que soube harmonizar os diferentes instrumentos musicais e fez vibrar as cordas do nosso coração numa única melodia”, disse.
Pedro e os primeiros discípulos, depois da Ressurreição, tinham a missão de “lançar sempre e novamente a rede imergindo nas águas do mundo a esperança do Evangelho”.
“Como pode Pedro levar adiante essa tarefa? O Evangelho diz-nos que isso só é possível porque ele experimentou na própria vida o amor infinito e incondicional de Deus, mesmo na hora do fracasso e da negação”.
“Por isso, quando Jesus se dirige a Pedro, o Evangelho usa o verbo grego agapao, que se refere ao amor que Deus tem por nós, à sua entrega sem reservas nem cálculos, diferente do usado na resposta de Pedro, que descreve o amor de amizade que cultivamos entre nós.”, disse.
Evangelizar não é “capturar os outros com a prepotência”.
Leão XIV deixou claro que evangelizar “Não se trata nunca de capturar os outros com a prepotência, com a propaganda religiosa ou com os meios do poder”, mas “trata-se sempre e apenas de amar como fez Jesus”.
“O ministério de Pedro é marcado precisamente por este amor oblativo, porque a Igreja de Roma preside na caridade e a sua verdadeira autoridade é a caridade de Cristo”, continuou.
O papa Leão XIV deixou clara a sua intenção de governar a Igreja de maneira sinodal. Embora não tenha se referido a esse conceito, ele disse que, graças ao sacramento do batismo, somos chamados a “construir o edifício de Deus na comunhão fraterna, na harmonia do Espírito, na convivência das diversidades”.
“E se a pedra é Cristo, Pedro deve apascentar o rebanho sem nunca ceder à tentação de ser um líder solitário ou um chefe colocado acima dos outros, tornando-se dominador das pessoas que lhe foram confiadas; pelo contrário, é-lhe pedido que sirva a fé dos irmãos, caminhando com eles”, disse.
Na homilia, ele também citou seu predecessor Leão XIII e sua encíclica Rerum novarum, que lançou as bases da doutrina social da Igreja. Sob esta premissa, ele defendeu a construção de uma Igreja “fundada no amor de Deus e sinal de unidade, uma Igreja missionária, que abre os braços ao mundo, que anuncia a Palavra, que se deixa inquietar pela história e que se torna fermento de concórdia para a humanidade”.
“Juntos, como único povo, todos irmãos, caminhemos ao encontro de Deus e amemo-nos uns aos outros”, disse ele.
Anel do Pescador e Palio

O cardeal Luis Antonio Tagle, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização e uma das figuras mais importantes da Igreja na Ásia, entregou a Leão XIV o anel do pescador, símbolo da autoridade papal e da ligação com o apóstolo Pedro, o primeiro bispo de Roma.
Nos últimos dias, o papa Leão XIV usou o seu anel episcopal de cardeal. Porém, hoje ele apareceu sem ele. Este anel, no qual seu nome está gravado, simboliza sua missão como sucessor do apóstolo Pedro. Antigamente era usado como selo para autenticar documentos papais.
O cardeal Mario Zenari, núncio na Síria desde 2008, impôs-lhe o pálio, símbolo de sua autoridade pastoral universal.
Inicialmente, o missal emitido pelo Vaticano previa que o pálio fosse entregue pelo Cardeal Dominique Mamberti, protodiácono. No entanto, ele não pôde fazê-lo por causa de um problema de saúde, disse a Sala de Imprensa da Santa Sé à ACI Prensa, agência da EWTN News.
Segundo dados da Santa Sé, mais de 150 mil fiéis se reuniram na Praça de São Pedro hoje para a solene celebração que inaugurou uma nova era na Igreja.
Além disso, 156 delegações participaram, da Albânia ao Zimbábue. A cerimônia contou com a presença da realeza europeia e líderes do mundo todo. O presidente dos EUA, Donald Trump, que estava na primeira fila do funeral do papa Francisco há três semanas, delegou representação ao seu vice-presidente J. D. Vance e ao secretário de Estado Marco Rubio, ambos católicos.

Também na primeira fila estava a presidente peruana Dina Boluarte, representando a dupla nacionalidade americana e peruana de Robert Prevost, que foi bispo de Chiclayo e passou mais de 20 anos como missionário no país sul-americano.
Antes da missa, o papa Leão XIV percorreu a área ao redor da Praça de São Pedro no papamóvel, para surpresa e espanto dos peregrinos que lotavam as ruas próximas desde cedo para assistir à missa que marcava a inauguração de seu pontificado. Um gesto com o qual ele quis mostrar sua proximidade com o povo.
