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Um porta-voz da Santa Sé minimizou a importância dos documentos que parecem lançar dúvidas sobre a justificativa do papa Francisco para restringir a missa em latim, chamando os documentos vazados recentemente de “parciais e incompletos”.
Os documentos parecem mostrar que bispos tinham uma visão mais favorável à missa tradicional em latim do que o papa Francisco disse quando emitiu restrições controversas à sua celebração em 2021.
Diane Montagna, jornalista que cobre a Santa Sé, publicou dois trechos de um relatório interno da Santa Sé sobre a consulta global de bispos num boletim informativo do site Substack na última terça-feira (1º). A publicação dos textos gerou nova controvérsia sobre a decisão de Francisco de restringir a liturgia anterior à reforma do Concílio Vaticano II, num momento em que alguns expressam esperanças de que o papa Leão XIV reverta ou modere a ação de seu antecessor.
Matteo Bruni, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, disse hoje (3) que a informação vazada “presumivelmente diz respeito a parte de um dos documentos nos quais a decisão [de restringir a missa em latim] se baseia”.
Respondendo a uma pergunta da CNA, agência em inglês da EWTN, numa entrevista coletiva sobre outro tópico, Bruni chamou os relatórios publicados de “uma reconstrução muito parcial e incompleta do processo de tomada de decisão”. Ele se recusou a confirmar ou negar a autenticidade dos documentos.
O porta-voz disse também que “outra documentação, outros relatórios, também o resultado de consultas posteriores” foram levados em consideração na decisão de restringir a liturgia pré Vaticano II.
Um funcionário do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, departamento responsável pela aplicação do motu proprio Traditionis custodes, disse hoje à CNA que o dicastério “não tem mais nada a acrescentar” à resposta de Bruni.
Os textos vazados, que resumem os resultados da consulta e citações selecionadas de bispos, foram aclamados pelos críticos de Traditionis custodes como evidência de que o papa Francisco foi falso ao falar sobre suas razões para impor restrições rígidas à celebração da missa em latim.
O decreto de Francisco revogou as permissões concedidas pelo papa Bento XVI no motu proprio Summorum pontificum, publicado em 2007.
“A alegação de que a maioria dos bispos ao redor do mundo queria restrições à missa antiga sempre foi duvidosa, mas esse documento mostra para todos que ela é completamente falsa”, escreveu Joseph Shaw, presidente da federação de missas em Latim Una Voce International, em boletim informativo publicado ontem (2).
Os documentos vazados mostram que “só as opiniões da minoria de bispos que realmente não gostavam da missa tradicional em latim estavam sendo levadas em conta”, disse Shaw. “A opinião da maioria foi ignorada”.
O papa argentino disse em carta que acompanha o decreto que em 2020 pediu ao atual Dicastério para a Doutrina da Fé que fizesse uma pesquisa com bispos ao redor do mundo sobre os resultados da implementação das normas de 2007 sobre a celebração da missa tradicional em latim.
O papa Francisco disse ter levado em conta “os desejos formulados pelo episcopado” e “o parecer da Congregação para a Doutrina da Fé” para escrever Traditionis custodes.
“As respostas revelam uma situação que me preocupa e entristece, e me convence da necessidade de intervir”, escreveu Francisco na carta. O papa disse também que a intenção de seus antecessores, de promover a unidade entre católicos com sensibilidades litúrgicas diversas, “foi frequentemente seriamente desconsiderada” e a oportunidade “explorada para aumentar as lacunas, reforçar as divergências e encorajar desacordos que ferem a Igreja, bloqueiam seu caminho e a expõem ao perigo da divisão”.
Segundo um dos documentos vazados, uma “avaliação geral” de cinco páginas que, segundo Montagna, fazia parte de um relatório não publicado com cerca de 200 páginas sobre os resultados do questionário de 2020, a consulta mostrou que “a maioria dos bispos que responderam… e que implementaram generosa e inteligentemente o MP [motu proprio] Summorum pontificum, expressam, em última análise, satisfação com ele”. Mas “alguns bispos dizem que o MP Summorum pontificum falhou em seu objetivo de promover a reconciliação e, portanto, pedem sua supressão”.
A avaliação vazada diz que alguns bispos disseram que prefeririam retornar às regras anteriores a 2007 para a missa tradicional em latim, quando sua celebração exigia permissão do bispo local, “para ter maior controle e gestão da situação”.
“No entanto”, diz também o texto, “a maioria dos bispos que responderam ao questionário dizem que fazer mudanças legislativas no MP Summorum pontificum causaria mais mal do que bem”.