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A prisão de duas freiras acusadas de conversão e tráfico de pessoas no Estado de Chattisgarh, Índia, desencadeou uma onda de protestos.
Os protestos começaram com as prisões em 25 de julho e se intensificaram desde que a libertação das freiras foi adiada. O governo nacionalista hindu do Partido Bharatiya Janata (BJP) que se opõe à fiança para as religiosas.
“Que tipo de justiça é essa?”, perguntou ontem (30) o arcebispo maior de Trivandrum, cardeal Baselios mar Cleemis, da Igreja Siro-Malabar, ex-presidente da Conferência dos Bispos Católicos da Índia (CBCI, na sigla em inglês).
O cardeal falava ao final de uma marcha de protesto até a Assembleia Legislativa de Kerala em Thiruvananthapuram, exigindo a “libertação imediata” das freiras, que são de Kerala, centro do cristianismo na Índia.
Em 27 de julho, a CBCI expressou “indignação e profunda preocupação com a recente prisão” das freiras na estação ferroviária de Durg, em Chattisgarh. As religiosas foram presas quando chegaram à estação para receber três jovens em seus conventos.
A irmã Preetha Mary e a irmã Vandana Francis pertencem à congregação das Irmãs de Maria Imaculada de Assis. A polícia as acusou de “conversão e tráfico de pessoas”, disse a CBCI.
Segundo a CBCI, as freiras foram “submetidas a assédio, falsas acusações e casos fabricados”.
“Elas foram agredidas fisicamente e a prisão ocorreu apesar das cartas de consentimento por escrito emitidas pelos pais de cada mulher acima de 18 anos de idade”, disse a conferência episcopal.
“Elementos antinacionais”, como “grupos fundamentalistas hindus”, estão “rastreando os movimentos das freiras católicas”, diz a CBCI.
“Tais incidentes não só ameaçam a modéstia das mulheres, mas também colocam suas vidas em grave perigo”, diz a conferência episcopal. “Essas repetidas ações injustificadas são uma grave violação da Constituição e não podem ser toleradas”.
“É absolutamente chocante e triste que as duas religiosas tenham sido detidas ilegalmente sob falsas acusações de tráfico humano e conversão forçada”, disse ontem à CNA, agência em inglês da EWTN, a irmã M. Nirmalini, presidente da ala feminina da Conferência da Índia Religiosa.
“Chocantemente, as acusações foram feitas sem apurar ou verificar os fatos”, disse a freira, membro da Congregação Apostólica do Carmelo.
“Toda uma brigada anti-minoria está provocando um frenesi para criar uma narrativa falsa e polarizar as pessoas contra os cristãos e particularmente os tribais”, disse Nirmalini. “Isso deve parar imediatamente e os responsáveis e a polícia local devem ser autuados pelas autoridades superiores”.
“Algumas congregações pediram aos membros que evitassem hábitos tradicionais em locais públicos para evitar assédio”, disse Nirmalini.
“Até o presidente do BJP de Kerala [criticou] a prisão das freiras. No entanto, elas continuam presos por acusações forjadas”, disse Cleemis, que junto com uma dúzia de bispos usava fitas pretas no rosto, enquanto centenas de freiras, padres e até não-católicos se uniram ao recente protesto na capital de Kerala.
Rajeev Chandrasekhar, presidente do BJP em Kerala, disse a repórteres em Nova Délhi, capital da Índia: “Nossa principal prioridade é proteger as freiras e garantir a justiça”.
“A perseguição das freiras, prendendo-as, é uma vergonha para o país”, disse ontem (30) John Brittas, membro católico da câmara alta do Parlamento Indiano, em debate parlamentar.
Protestos continuaram em várias outras cidades de Kerala e em outros lugares, como Bangalore, enquanto as freiras continuam a definhar na prisão.
“Não se pode manter a Constituição indiana como refém”, disse o arcebispo de Thrissur, Andrews Thazhath, em protesto na última terça-feira (29). “Prender freiras por oferecerem emprego a jovens cristãs com o consentimento de seus pais é uma vergonha nacional”.