Acidigital
O papa Leão XIV fez hoje (13) uma audiência geral diante de milhares de peregrinos, que desta vez aconteceu na Aula Paulo VI, no Vaticano, devido às altas temperaturas em Roma.
O grande número de fiéis que compareceram para ouvir o papa fez com que muitos tivessem que acompanhar o encontro da praça de São Pedro.
No início da audiência, e em inglês, italiano e espanhol, Leão XIV anunciou que, ao fim da catequese, iria até a praça para cumprimentar pessoalmente aqueles que acompanhavam o evento de lá.
O amor, quando é sincero, não pode ocultar a verdade
O papa deu continuidade ao ciclo de catequeses “Jesus Cristo, nossa esperança” e convidou os fiéis a refletirem sobre uma “cena íntima, dramática, mas também profundamente verdadeira”: o momento na refeição da Páscoa em que Jesus revela que um dos doze apóstolos está prestes a traí-lo.
Leão XIV disse que Jesus não diz essas palavras para condenar, mas para mostrar que “o amor, quando é sincero, não pode ocultar a verdade”.
O papa disse que, embora a sala “esteja cheia de uma dor silenciosa” — a mesma dor que sentimos “quando a sombra da traição se insinua nos relacionamentos mais queridos” —, a maneira como Jesus fala do que está para acontecer “é surpreendente”.
“Ele não levanta a voz, não aponta o dedo, não menciona o nome de Judas. Ele fala de uma maneira que todos podem se questionar”, disse Leão XIV.
O mal “não tem a última palavra”
O papa se dirigiu aos fiéis para dizer que a pergunta que os discípulos fazem — “Serei eu?” — é talvez uma das perguntas mais sinceras que os fiéis podem fazer. “Não é a pergunta do inocente, mas do discípulo que se descobre frágil”.
“Não é o grito do culpado, mas o sussurro de quem, mesmo querendo amar, sabe que pode ferir. É nessa consciência que começa o caminho da salvação”, disse o papa.
Leão enfatizou que “Jesus não denuncia para humilhar”, mas diz a verdade “porque quer salvar”. E para ser salvo, segundo o papa, “é preciso sentir: sentir que se está envolvido, sentir que se é amado não obstante tudo, sentir que o mal é real mas não tem a última palavra”.
“Só quem conheceu a verdade de um amor profundo pode aceitar inclusive a ferida da traição”, disse Leão XIV.
Sobre a tristeza sentida pelos discípulos, o papa disse que, se acolhida com sinceridade, “ela se torna um lugar de conversão”.
“O Evangelho não nos ensina a negar o mal, mas a reconhecê-lo como uma dolorosa oportunidade de renascimento”, disse ele.
O papa Leão XIV disse também que “estamos habituados a julgar”, mas “Deus, ao contrário, aceita sofrer”. “Quando vê o mal, não se vinga, entristece-se”, acrescentou.
“A força silenciosa de Deus”
Depois de dizer aos seus discípulos que um deles iria traí-lo, Jesus diz que “melhor fora que nunca tivesse nascido”.
Essa advertência, para o papa, “não é uma condenação infligida a priori, mas uma verdade que cada um de nós pode reconhecer: se renegarmos o amor que nos gerou, se traindo nos tornarmos infiéis a nós próprios, então realmente perderemos o sentido da nossa vinda ao mundo, excluindo-nos da salvação”.
“Contudo, precisamente ali, no ponto mais obscuro, a luz não se apaga. Aliás, começa a brilhar. Pois se reconhecermos o nosso limite, se nos deixarmos tocar pela dor de Cristo, então finalmente poderemos renascer”, disse Leão XIV.
“A fé não nos exime da possibilidade do pecado, mas oferece-nos sempre uma saída: a da misericórdia”, disse o papa.
Ele disse também que “Jesus não se escandaliza perante a nossa fragilidade”, mas “continua a ter confiança”.
” Eis a força silenciosa de Deus: nunca abandona a mesa do amor, nem sequer quando sabe que será deixado sozinho”, disse Leão XIV.
“Embora possamos fracassar, Deus nunca falha”
O papa exortou os fiéis a se perguntarem sinceramente: “Porventura sou eu?”
“Não para nos sentirmos acusados, mas para abrir um espaço à verdade no nosso coração”, disse Leão XIV.
“A salvação começa aqui: na consciência de que poderíamos ser nós a quebrar a confiança em Deus, mas que também podemos ser nós a aceitá-la, a preservá-la, a renová-la”, disse ele.
Por fim, o papa Leão XIV disse que isso é esperança: “Saber que, embora possamos fracassar, Deus nunca falha”.
“Ainda que possamos trair, Ele não se cansa de nos amar. E se nos deixarmos alcançar por este amor – humilde, ferido, mas sempre fiel – então realmente poderemos renascer. E começar a viver não já como traidores, mas como filhos sempre amados”, concluiu o papa.