Acidigital
Em sua catequese de hoje (10), o papa Leão XIV disse que o grito de dor dos fiéis, como o de Jesus na cruz, não é sinal de fraqueza, mas de humanidade que pode se transformar em esperança e num modo extremo de oração.
A chuva em Roma impediu que o papa passasse muito tempo cumprimentando os fiéis na praça de São Pedro. A bordo do papamóvel, ele percorreu a praça em meio a aplausos e vivas, parando para dar sua bênção, especialmente às crianças.
Leão XIV dedicou sua catequese na audiência geral, que começou um pouco atrasada por cerca de cinco minutos, à reflexão sobre o “ápice da vida de Jesus neste mundo: a sua morte na cruz”.
Especificamente, o papa destacou um “detalhe muito precioso” e convidou os fiéis a contemplá-lo com a “inteligência da fé”. “Na cruz, Jesus não morre em silêncio”, disse ele.
Um grito que manifesta o maior amor
Cumprida a sua missão na Terra, Cristo deixou a sua vida com um grito: “Jesus, dando um forte grito, expirou (cf. Mc 15, 37)”. Segundo o papa, “esse brado encerra tudo: dor, abandono, fé, oferenda”.
“Não é só a voz de um corpo que cede, mas o último sinal de uma vida que se entrega”, disse Leão XIV.
Ele disse também que o grito foi precedido por uma pergunta, “uma das mais dilacerantes que podem ser pronunciadas: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”
O papa Leão XIV enfatizou que, naquele momento final, Jesus experimenta o silêncio, a ausência e o abismo. No entanto, segundo o papa, “não se trata de uma crise de fé, mas da última etapa de um amor que se oferece até ao fim”.
“O clamor de Jesus não é desespero, mas sinceridade, verdade levada ao limite, confiança que resiste até quando tudo se cala”, enfatizou ele.
Leão XIV também enfatizou que “é ali, naquele homem angustiado, que se manifesta o maior amor”.
“É ali que podemos reconhecer um Deus que não permanece distante, mas atravessa a nossa dor até ao fim”, disse o papa.
Gritar não é sinal de fraqueza, mas um ato de humanidade.
Dizendo que o centurião reconheceu n’Ele o Filho de Deus, Leão XIV disse que, às vezes, “o que não conseguimos proferir com palavras, expressamos com a voz”.
“Quando o coração está cheio, clama”, disse ele. E isso nem sempre constitui um sinal de fraqueza, mas pode ser um ato profundo de humanidade”.
Embora as pessoas estejam acostumadas a pensar no grito como algo corrompido, algo que deve ser reprimido, o papa disse que o Evangelho dá ao grito “um valor imenso, recordando-nos que pode ser invocação, protesto, desejo, entrega”.
Esse grito, como o de Jesus, “pode ser até a forma extrema da oração, quando já não temos palavras”.
“Naquele clamor, Jesus colocou tudo o que lhe restava: todo o seu amor, toda a sua esperança!”, disse Leão XIV.
Neste contexto, ele enfatizou que esse grito também contém “uma esperança que não se resigna”, pois “grita-se quando se acredita que alguém ainda pode ouvir”.
“Grita-se não por desespero, mas por desejo”, disse o papa. “Jesus não gritou contra o Pai, mas para Ele. Até no silêncio, estava convencido de que o Pai se encontrava presente. E assim, mostrou-nos que a nossa esperança pode gritar, até quando tudo parece perdido”.
Jesus ensina a não ter medo de gritar
Leão XIV disse também que o choro pode ser um “gesto espiritual”, dizendo que é o primeiro ato do nascimento quando as pessoas vêm ao mundo.
“É também uma maneira de permanecer vivo”, disse também o papa. “Grita-se quando se sofre, mas também quando se ama, quando se chama, quando se invoca. Gritar é dizer que estamos presentes, que não queremos apagar-nos no silêncio, que ainda temos algo a oferecer!”
Ele então convidou os fiéis a não conterem o clamor, pois guardar tudo dentro de si pode, às vezes, “consumir-nos lentamente”. Por isso, Leão XIV insistiu que “Jesus ensina-nos a não ter medo do grito, desde que seja sincero, humilde, orientado para o Pai”.
“Quando nasce do amor, o brado nunca é inútil”, disse o papa. “E nunca é ignorado, se for oferecido a Deus. É um modo de não ceder ao cinismo, de continuar a acreditar que outro mundo é possível”.
No fim da sua catequese, o papa Leão XIV encorajou os fiéis a aprenderem do Senhor “o clamor da esperança quando chega a hora da extrema provação”.
“Não para ferir, mas para nos confiarmos”, disse Leão XIV. “Não para gritar contra alguém, mas para abrir o coração. Se o nosso brado for verdadeiro, poderá ser o limiar de uma nova luz, de um novo nascimento”.
Por fim, ele disse que para Jesus, quando tudo parecia acabado, “na realidade a salvação estava prestes a começar”.
“Se for manifestada com a confiança e a liberdade dos filhos de Deus, a voz sofrida da nossa humanidade, unida à voz de Cristo, pode tornar-se nascente de esperança, para nós e para quantos estiverem ao nosso lado”, concluiu o papa.