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Dia Mundial da Paz: “A paz existe, deseja habitar-nos. Resiste à violência”

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Vaticanews

Mariangela Jaguraba – Vatican News

Foi divulgada, nesta quinta-feira (18/12), a mensagem do Papa Leão XIV para o 59° Dia Mundial da Paz que será celebrado em 1° de janeiro sobre o tema “A paz esteja com todos vós. Rumo a uma paz desarmada e desarmante”.

O Papa inicia sua mensagem com uma “antiga saudação, presente ainda hoje em muitas culturas”, mas que “ganhou novo vigor nos lábios de Jesus ressuscitado na noite de Páscoa”: «A paz esteja convosco!» Esta “sua Palavra que não só deseja, mas realiza uma mudança definitiva naqueles que a acolhem e, consequentemente, em toda a realidade”. “Por isso, os sucessores dos Apóstolos exprimem todos os dias e em todo o mundo a revolução mais silenciosa: “A paz esteja convosco!” Desde a noite da minha eleição como Bispo de Roma, quis inserir a minha saudação neste anúncio coral. E desejo reiterá-lo: esta é a paz do Cristo ressuscitado, uma paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante. Ela provém de Deus, o Deus que nos ama a todos incondicionalmente”, escreve o Papa.

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“Cristo, nossa paz. A sua presença, o seu dom e a sua vitória reverberam na perseverança de muitas testemunhas, por meio das quais a obra de Deus continua no mundo, tornando-se ainda mais perceptível e luminosa na escuridão dos tempos”, ressalta Leão XIV.

“A paz existe, deseja habitar-nos, tem o poder suave de iluminar e alargar a inteligência, resiste à violência e a vence. A paz tem o sopro da eternidade: enquanto ao mal se ordena “basta!”, à paz se suplica “para sempre”. O Ressuscitado introduziu-nos neste horizonte. É neste sentir que vivem os promotores da paz que, no drama daquilo que o Papa Francisco definiu como “terceira guerra mundial em pedaços”, ainda resistem à contaminação das trevas, como sentinelas na noite”, escreve ainda o Papa Leão na mensagem.

Segundo o Pontífice, “Santo Agostinho exortava os cristãos a estabelecerem uma amizade indissolúvel com a paz, para que, guardando-a no íntimo do próprio espírito, pudessem irradiar o calor luminoso ao seu redor. Dirigindo-se à sua comunidade, ele escreveu: «Se quereis atrair os outros para a paz, tende-a vós primeiro; sede vós, antes de tudo, firmes na paz. Para inflamar os outros, deveis ter dentro de vós a luz acesa»”.

“Antes de ser um objetivo, a paz é uma presença e um caminho. Mesmo que seja contestada dentro e fora de nós, como uma pequena chama ameaçada pela tempestade, guardemo-la sem esquecer os nomes e as histórias daqueles que a testemunharam. É um princípio que orienta e determina as nossas escolhas”, ressalta o Papa.

“O caminho de Jesus continua sendo motivo de perturbação e medo. E Ele repete com firmeza àqueles que gostariam de defendê-lo: «Mete a espada na bainha». A paz de Jesus ressuscitado é desarmada, porque desarmada foi a sua luta, dentro de precisas circunstâncias históricas, políticas e sociais. Os cristãos devem tornar-se, juntos, testemunhas proféticas desta novidade, conscientes das tragédias das quais muitas vezes foram cúmplices. A grande parábola do juízo universal convida todos os cristãos a, conscientemente, agir com misericórdia. E, ao fazê-lo, encontrarão ao seu lado irmãos e irmãs que, por caminhos diferentes, souberam ouvir a dor dos outros e se libertaram interiormente do engano da violência”, escreve Leão XIV em sua mensagem.

De acordo com o Pontífice, “se a paz não for uma realidade experimentada, guardada e cultivada, a agressividade espalha-se, tanto na vida doméstica, quanto na vida pública”. “A força dissuasiva do poder e, em particular, a dissuasão nuclear, encarnam a irracionalidade de uma relação entre os povos baseada não no direito, na justiça e na confiança, mas no medo e no domínio da força”, escreve o Papa, ressaltando que “em 2024, as despesas militares a nível mundial aumentaram 9,4% em relação ao ano anterior, confirmando a tendência ininterrupta dos últimos dez anos e atingindo o valor de 2,72 bilhões de dólares, ou seja, 2,5% do PIB mundial”.

Segundo Leão XIV, “os novos desafios devem ser enfrentados atualmente não só com um enorme esforço econômico para o rearmamento, mas também com um realinhamento das políticas educativas”.

O Papa recorda no texto que “sessenta anos atrás, o Concílio Vaticano II chegava à sua conclusão com a consciência da urgência de um diálogo entre a Igreja e o mundo contemporâneo. Ao reiterar o apelo dos Padres conciliares e considerando o diálogo como a via mais eficaz em todos os níveis, constatamos que os recentes avanços tecnológicos e a aplicação das inteligências artificiais no âmbito militar radicalizaram a tragédia dos conflitos armados. Está sendo delineado até mesmo um processo de desresponsabilização dos líderes políticos e militares devido ao crescente “delegar” às máquinas as decisões relativas à vida e à morte das pessoas. É uma espiral de destruição sem precedentes, que compromete o humanismo jurídico e filosófico do qual qualquer civilização depende e pelo qual é protegida. É preciso denunciar as enormes concentrações de interesses económicos e financeiros privados que estão a empurrar os Estados nessa direção; mas isso não é suficiente, se ao mesmo tempo não for promovido o despertar das consciências e do pensamento crítico. A Encíclica Fratelli tutti apresenta São Francisco de Assis como exemplo desse despertar”.

“A bondade é desarmante. Talvez por isso Deus se tenha feito criança. O mistério da Encarnação, que tem o seu ponto mais extremo de esvaziamento na descida aos infernos, começa no ventre de uma jovem mãe e manifesta-se na manjedoura de Belém. «Paz na terra», cantam os anjos, anunciando a presença de um Deus indefeso, pelo qual a humanidade só pode descobrir-se amada cuidando d’Ele. Nada tem a capacidade de mudar-nos mais do que um filho. E talvez seja justamente o pensamento nos nossos filhos, nas crianças e também naqueles que são frágeis como elas, que nos traspassa o coração”, escreve o Papa.

O Papa Leão ressalta que “São João XXIII foi o primeiro a introduzir a perspectiva de um desarmamento integral, alcançado somente através da renovação do coração e da inteligência”, descrito na Carta encíclica Pacem in terris.

Segundo Leão XIV, as religiões devem vigiar “sobre a crescente tentativa de transformar em armas até mesmo pensamentos e palavras. As grandes tradições espirituais, assim como o reto uso da razão, fazem-nos ir além dos laços de sangue e étnicos, ou daquelas fraternidades que reconhecem apenas quem é semelhante e rejeitam quem é diferente. Hoje, vemos como isso não é óbvio. Infelizmente, faz parte do panorama contemporâneo, cada vez mais, arrastar as palavras da fé para o embate político, abençoar o nacionalismo e justificar religiosamente a violência e a luta armada. Os fiéis devem refutar ativamente, antes de tudo com a sua vida, estas formas de blasfêmia que obscurecem o Santo Nome de Deus. Por isso, juntamente com a ação, é mais do que nunca necessário cultivar a oração, a espiritualidade, o diálogo ecumênico e inter-religioso como caminhos de paz e linguagens de encontro entre tradições e culturas. Em todo o mundo, é desejável que «cada comunidade se torne uma “casa de paz”, onde se aprende a neutralizar a hostilidade através do diálogo, onde se pratica a justiça e se conserva o perdão». Hoje, mais do que nunca, é preciso mostrar que a paz não é uma utopia, através de uma criatividade pastoral atenta e generativa”.

“Por outro lado, isso não deve desviar a atenção de todos da importância da dimensão política”, recorda o Papa Leão, lembrando um trecho da Pacem in terris que afirma que os que são chamados a assumir responsabilidades públicas, nos mais altos e qualificados cargos, devem investigar «a fundo qual a melhor maneira de se chegar à maior harmonia das comunidades políticas no plano mundial; harmonia, repetimos, que se baseia na confiança mútua, na sinceridade dos tratados e na fidelidade aos compromissos assumidos. Examinem de tal maneira todos os aspectos do problema para encontrarem no nó da questão, a partir do qual possam abrir caminho a um entendimento leal, duradouro e fecundo». “É o caminho desarmante da diplomacia, da mediação, do direito internacional, infelizmente contrariado por violações cada vez mais frequentes de acordos alcançados com grande esforço, num contexto que exigiria não a deslegitimação, mas sim o fortalecimento das instituições supranacionais”, sublinha.

“Hoje, a justiça e a dignidade humana estão, mais do que nunca, expostas aos desequilíbrios de poder entre os mais fortes”, escreve ainda Leão XIV, destacando a necessidade de “motivar e apoiar todas as iniciativas espirituais, culturais e políticas que mantenham viva a esperança, combatendo a difusão de «atitudes fatalistas a respeito da globalização, como se as dinâmicas em ato fossem produzidas por forças impessoais anônimas e por estruturas independentes da vontade humana». Se, efetivamente, «a melhor maneira de dominar e avançar sem entraves é semear o desânimo e despertar uma desconfiança constante, mesmo disfarçada por detrás da defesa de alguns valores», deve se contrapor a tal estratégia o desenvolvimento de sociedades civis conscientes, de formas de associativismo responsável, de experiências de participação não violenta, de práticas de justiça restaurativa em pequena e grande escala. Leão XIII já o salientava claramente na Encíclica Rerum novarum: «A experiência que o homem adquire todos os dias da exiguidade das suas forças, obriga-o e impele-o a agregar-se a uma cooperação estranha. É nas Sagradas Letras que se lê esta máxima: “Mais valem dois juntos que um só, pois tiram vantagem da sua associação. Se um cai, o outro sustenta-o. Desgraçado do homem só, pois; quando cair, não terá ninguém que o levante”. E esta outra: “O irmão que é ajudado por seu irmão, é como uma cidade forte”» “.

“Que isso seja um fruto do Jubileu da Esperança, que levou milhões de seres humanos a redescobrirem-se peregrinos e a iniciarem em si mesmos aquele desarmamento do coração, da mente e da vida, ao qual Deus não tardará em responder, cumprindo as suas promessas”, conclui o Papa Leão.

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