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O papa Leão XIV fez um chamado a “partilhar o pão”, sinal do dom da salvação divina, a fim de “multiplicar a esperança” no mundo, ao celebrar a missa da solenidade de Corpus Christi hoje (22).
Nessa festa litúrgica em que a Igreja Católica celebra de maneira especial o mistério da Eucaristia, ou seja, a presença real de Jesus Cristo no pão e no vinho consagrados, o papa disse: “Cristo é a resposta de Deus à fome do homem, porque o seu corpo é o pão da vida eterna: tomai todos e comei”.
Por volta das 16h30 (horário local), o papa seguiu do Vaticano para a basílica de São João de Latrão, sua catedral como bispo de Roma, para celebrar a missa dominical, na qual refletiu sobre o profundo significado da Eucaristia e o valor da partilha. A celebração foi realizada no exterior da igreja.
Ao explicar o Evangelho do dia, que narra o milagre dos pães e dos peixes, o papa disse que, “ao salvar as multidões da fome, Jesus anuncia que salvará todos da morte”.
Desse modo, instituiu a base do “mistério da fé, que celebramos no sacramento da Eucaristia”. “Assim como a fome é sinal da nossa radical indigência de vida, assim também partir o pão é sinal do dom divino de salvação”, disse.
Leão XIV destacou como a compaixão de Jesus por aqueles que sofrem “manifesta a amorosa proximidade de Deus, que vem ao mundo para nos salvar”. “Quando Deus reina, o homem é liberto de todo o mal”, acrescentou.
Frente à finitude humana, “quando nos alimentamos de Jesus, pão vivo e verdadeiro, vivemos por Ele”.
Referindo-se novamente ao milagre do Evangelho, Leão XIV disse que, na fome do povo, um sinal profundo é revelado, porque é “nesta hora, no tempo da indigência e das sombras, que Jesus permanece entre nós”.
O papa disse que, diante da sugestão dos apóstolos de mandar a multidão embora, Jesus ensina uma lógica contrária, porque “a fome não é uma necessidade alheia ao anúncio do Reino e ao testemunho da salvação”.
“Com Jesus há tudo o que é necessário”
Jesus “tem compaixão do povo faminto e convida os seus discípulos a cuidar dele”, disse o papa.
Os discípulos ofereceram apenas cinco pães e dois peixes, mas esses são cálculos “aparentemente razoáveis” que revelam “sua falta de fé”. “Com Jesus há tudo o que é necessário para dar força e sentido à nossa vida”, acrescentou o papa.
Os gestos de Jesus ao partir o pão, disse Leão XIV, “não inauguram um complexo ritual mágico, mas testemunham com simplicidade a gratidão para com o Pai, a oração filial de Cristo e a comunhão fraterna que o Espírito Santo sustenta”.
“Para multiplicar os pães e os peixes, Jesus divide os poucos que há, e assim mesmo são suficientes para todos, e ainda sobram”, disse.
Com um gesto sério, o papa denunciou as atuais desigualdades no mundo e criticou “a acumulação de poucos” como um sinal visível “de uma soberba indiferente, que produz dor e injustiça”.
“Hoje, no lugar das multidões recordadas no Evangelho estão povos inteiros, humilhados pela ganância alheia mais ainda do que pela própria fome”, disse.
O papa pediu para seguir o exemplo do Senhor e exortou a viver esse ensinamento com gestos concretos, especialmente no Jubileu da Esperança: “O exemplo do Senhor continua a ser para nós um critério urgente de ação e serviço: partilhar o pão, para multiplicar a esperança, proclama o advento do Reino de Deus”.
A Eucaristia, alimento que transforma
Leão XIV citou santo Agostinho para descrever a Eucaristia como “um pão que alimenta e não falta; um pão que se pode comer, mas não se esgota”, e disse que “a Eucaristia é a presença verdadeira, real e substancial do Salvador, que transforma o pão em si mesmo, para nos transformar n’Ele”.
O papa também abordou a raiz existencial dessa comunhão com Cristo: “A nossa natureza faminta traz o sinal de uma indigência que é saciada pela graça da Eucaristia”.
Ao se referir à unidade da Igreja, o papa lembrou que “o Corpus Domini, vivo e vivificante, torna-nos a nós, isto é, a própria Igreja, corpo do Senhor”. E acrescentou, citando a constituição dogmática Lumen gentium do Concílio Vaticano II: “Todos os homens são chamados a esta união com Cristo, luz do mundo, do qual vimos, por quem vivemos, e para o qual caminhamos”.
Antes de iniciar a procissão eucarística que o levou – expondo o Santíssimo Sacramento – à basílica de Santa Maria Maior, o papa quis explicar seu significado espiritual e missionário: “Juntos, pastores e rebanho, alimentamo-nos do Santíssimo Sacramento, adoramo-lo e levamo-lo pelas ruas”.
“Ao fazê-lo, apresentamo-lo ao olhar, à consciência e ao coração das pessoas”, acrescentou.
Leão XIV concluiu com um convite a todos os fiéis: “Restaurados pelo alimento que Deus nos dá, levemos Jesus ao coração de todos, porque Jesus a todos envolve na obra da salvação, convidando cada um a participar da sua mesa. Felizes os convidados, que se tornam testemunhas deste amor”.