Acidigital
O papa Leão XIV disse hoje (6) que o amor “não é fruto do acaso, mas de uma escolha consciente” e disse que não é uma “simples reação”, mas sim uma “decisão que exige preparação”.
Da praça de São Pedro, o papa começou um novo ciclo de catequeses sobre o mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Jesus não enfrenta sua paixão “por fatalidade”, mas sim “por fidelidade a um caminho acolhido e percorrido com liberdade e esmero”, disse o papa.
Para Leão XIV, essa é uma verdadeira consolação: “Saber que o dom da sua vida brota de uma intenção profunda, não de um impulso repentino”.
Nesse contexto, ele propôs meditar sobre o significado profundo da palavra “preparar”, que, embora à primeira vista pareça simples, na verdade guarda “um segredo precioso da vida cristã”.
O papa analisou a passagem do Evangelho de são Marcos em que os discípulos perguntam a Jesus onde Ele quer que preparem a refeição da Páscoa no primeiro dia da Festa dos Pães Asmos.
A resposta de Jesus parece quase um enigma: “Ide à cidade, e virá ao vosso encontro um homem carregando uma bilha de água (cf. Mc 14:13)”.
Nessa narrativa, disse o papa, os detalhes tornam-se simbólicos: Um homem que carrega uma bilha, gesto normalmente feminino naquela época, uma sala no andar de cima já pronta, um dono de casa desconhecido”.
Usando essa imagem, Leão XIV disse que “antes mesmo de percebermos que precisamos ser acolhidos, o Senhor já preparou um espaço para nós, onde nos podemos reconhecer e nos sentir seus amigos”.
Esse espaço, disse também o papa, “é o nosso coração: uma sala que pode parecer vazia, mas que só espera ser reconhecida, enchida e preservada”.
“Na realidade a Páscoa, que os discípulos devem preparar, já está pronta no coração de Jesus”, disse Leão XIV.
O dom de Deus não anula nossa responsabilidade
O papa disse que “a graça não elimina a nossa liberdade, mas desperta-a” e que “o dom de Deus não anula a nossa responsabilidade, mas torna-a fecunda”.
Leão XIV disse também que “também hoje, como então, há uma ceia a preparar”.
“Não se trata unicamente da liturgia, mas da nossa disponibilidade a entrar num gesto que nos supera”, disse também o papa.
A Eucaristia é celebrada na vida cotidiana
Para o papa, “a Eucaristia celebra-se não só no altar, mas também na vida cotidiana, onde é possível experimentar tudo como oferta e ação de graças”.
“Preparar-se para celebrar esta ação de graças não significa fazer mais, mas deixar espaço”, disse o papa. “Significa eliminar o que atrapalha, diminuir as pretensões, deixar de cultivar expectativas irreais”.
“Com efeito, muitas vezes confundimos os preparativos com as ilusões”, disse Leão XIV. “As ilusões distraem-nos, os preparativos orientam-nos. As ilusões buscam um resultado, os preparativos tornam possível um encontro”.
“O verdadeiro amor – recorda-nos o Evangelho – é dado antes mesmo de ser correspondido. Trata-se de uma dádiva antecipada. Não se fundamenta no que recebe, mas naquilo que deseja oferecer. Foi o que Jesus viveu com os seus: enquanto eles ainda não compreendiam, enquanto um deles estava prestes a traí-lo e outro a renegá-lo, Ele preparava para todos uma ceia de comunhão”.
Por isso, o papa exortou os fiéis a “preparar a Páscoa do Senhor”.
“Não só a litúrgica: também a da nossa vida”, disse também Leão XIV.
“Cada gesto de disponibilidade, cada ato gratuito, cada perdão oferecido antecipadamente, cada dificuldade acolhida com paciência constitui um modo de preparar um lugar onde Deus pode habitar”, disse o papa.
Dar o primeiro passo
Leão XIV exortou os fiéis a se perguntarem: “O que significa para mim, hoje, preparar?”
“Talvez renunciar a uma pretensão, deixar de esperar que o outro mude, dar o primeiro passo. Talvez ouvir mais, agir menos ou aprender a confiar naquilo que já foi predisposto”, disse ele.
“Que o Senhor nos conceda ser humildes preparadores da sua presença. E, nessa disponibilidade diária, cresça também em nós aquela confiança serena que nos permite enfrentar tudo com o coração livre. Pois onde foi preparado o amor, a vida pode realmente florescer”, concluiu o papa.
80 anos do bombardeio atômico de Hiroshima
No fim da audiência geral, Leão XIV criticou “a segurança ilusória baseada na destruição mútua” por ocasião do 80º aniversário do bombardeio atômico de Hiroshima em 6 de agosto de 1945. A lembrança do ataque a Nagasaki ocorrerá em três dias, no sábado (9).
Hoje se completam 80 anos do bombardeio atômico da cidade japonesa de Hiroshima e, daqui a três dias, o bombardeio de Nagasaki. “Asseguro minhas orações por todos aqueles que sofreram seus efeitos físicos, psicológicos e sociais”, disse o papa aos peregrinos reunidos na praça de São Pedro.
Na manhã de 6 de agosto de 1945, às 8h15, uma bomba atômica lançada pelo bombardeiro americano Enola Gay atingiu sua altitude alvo: cerca de 600 metros acima do centro de Hiroshima. Naquele instante, uma explosão nuclear gerou uma bola incandescente que, em poucos segundos, arrasou a cidade.
O poder de destruição da bomba, apelidada de “Little Boy”, foi estimado em 15 quilotons, o equivalente a 15 mil toneladas de TNT. O impacto imediato matou 60 mil pessoas, e os efeitos colaterais da radiação levaram a muitas outras mortes nos dias, meses e anos seguintes.
Apesar do passar dos anos, disse também Leão XIV, “esses acontecimentos trágicos servem como um alerta universal contra a devastação causada pelas guerras, e em particular pelas armas nucleares”.
Assim, o papa expressou sua esperança de que “no mundo atual, marcado por fortes tensões e conflitos sangrentos, a ilusória segurança baseada na ameaça da destruição recíproca dê lugar aos instrumentos da justiça, à prática do diálogo e à confiança na fraternidade”.
Leão XIV enviou ontem (5) uma mensagem ao bispo de Hiroshima, Japão, Alexis Mitsuru Shirahama, na qual disse que “a guerra é sempre uma derrota para a humanidade”.
Na saudação aos peregrinos de língua italiana, o papa dirigiu uma mensagem especial a várias congregações femininas.
“Saúdo em particular as Irmãs do Apostolado Católico, as Servas Missionárias do Santíssimo Sacramento e as Irmãs Terciárias de São Francisco, que celebram seus respectivos capítulos gerais. Queridas irmãs, desejo sinceramente que vocês tornem o testemunho evangélico, segundo o seu carisma fundador, cada vez mais vivo em vocês”.
Por fim, dirigindo-se aos jovens, aos doentes e aos recém-casados, Leão XIV falou sobre a festa litúrgica da Transfiguração do Senhor: “O rosto luminoso do Senhor seja para vós fonte de esperança e consolação”.