Acidigital
O papa Leão XIV alertou sobre “a pretensão de que a alegria deve ser desprovida de feridas” ou “provações”. Na audiência geral de hoje (8), o papa disse que “a dor não é a negação da promessa”.
“Existe um obstáculo que muitas vezes nos impede de reconhecer esta presença de Cristo na vida diária: a pretensão de que a alegria deve ser desprovida de feridas”, disse o papa.
Leão XIV continuou, como nas semanas anteriores, com a catequese sobre a Ressurreição de Cristo, enfatizando que Sua presença não se impõe por meio de “clamor”, mas com “paciência” espera o momento oportuno para “transformar a desilusão em espera confiante”.
Diante de centenas de fiéis reunidos na praça de São Pedro, no Vaticano, o papa pediu a graça de poder notar a “presença humilde e discreta” de Cristo e descobrir que “cada dor, se for habitada pelo amor, pode tornar-se lugar de comunhão”.
Leão XIV iniciou sua catequese sobre a Ressurreição de Cristo com a imagem dos discípulos de Emaús, que “caminhavam tristes, pois esperavam um Messias que não passasse pela Cruz”.
Apesar de terem ouvido que o túmulo está vazio, eles “não conseguem sorrir”, disse o papa. Mas Jesus “põe-se ao lado deles, ajudando-os pacientemente a compreender que a dor não é a negação da promessa, mas o caminho ao longo do qual Deus manifestou a medida do seu amor (cf. Lc 24, 13-27)”, disse Leão XIV.
Qualquer pecado pode ser visitado pela esperança
O papa disse que a Ressurreição de Cristo “ensina-nos que não há história tão marcada pela desilusão ou pelo pecado que não possa ser visitada pela esperança”.
“Nenhuma queda é definitiva, nenhuma noite é eterna, nenhuma ferida está destinada a permanecer aberta para sempre”, disse Leão XIV. “Por mais distantes, confusos ou indignos que nos possamos sentir, não há distância que possa extinguir a força infalível do amor de Deus”.
O papa exortou os fiéis a descobrir que “sob as cinzas do desencanto e do cansaço, há sempre uma brasa viva, que só espera ser reavivada”.
A humildade de Cristo na Ressurreição: sem efeitos especiais
Em seu discurso, Leão XIV destacou a humildade com que Cristo Ressuscitado “não realiza gestos espetaculares para impor aos seus discípulos a fé”.
“Não se apresenta circundado de plêiades de anjos, não faz gestos sensacionais, não pronuncia discursos solenes para revelar os segredos do universo”, disse o papa. “Pelo contrário, aproxima-se discretamente, como um viandante qualquer, como um homem faminto que pede para compartilhar um pouco de pão (cf. Lc 24, 15.41)”.
“Nós teríamos esperado efeitos especiais, sinais de poder, provas esmagadoras”, disse Leão XIV. “Mas o Senhor não procura isso: prefere a linguagem da proximidade, da normalidade, da mesa compartilhada”.
Assim, a Ressurreição não significa tornar-se “espírito evanescente”, mas sim entrar numa “comunhão mais profunda com Deus e com os irmãos, numa humanidade transfigurada pelo amor”, disse ele.
A imagem de Jesus Ressuscitado comendo uma porção de peixe diante de seus discípulos, disse também o papa, “não é um detalhe marginal, é a confirmação de que o nosso corpo, a nossa história, as nossas relações não são um embrulho a descartar”, mas estão “destinados à plenitude da vida”.
Cada gesto feito com gratidão e na comunhão antecipa o Reino de Deus
Assim, Leão XIV disse que, na Páscoa de Cristo, tudo pode ser transformado em Graça.
“Até as coisas mais simples: comer, trabalhar, esperar, cuidar da casa, apoiar um amigo”, disse o papa. “A Ressurreição não subtrai vida ao tempo e ao esforço, mas transforma o seu sentido e sabor. Cada gesto feito com gratidão e na comunhão antecipa o Reino de Deus”.
Leão XIV disse também afirmou que o Senhor vai aos fiéis nos lugares mais escuros: “Nos lugares mais obscuros: nos nossos fracassos, nas relações desgastadas, nos trabalhos diários que pesam sobre os nossos ombros, nas dúvidas que nos desencorajam”.
“Nada do que somos, nenhum fragmento da nossa existência lhe é alheio”, concluiu o papa. “Hoje, o Senhor Ressuscitado põe-se ao lado de cada um de nós, precisamente enquanto percorremos os nossos caminhos – do trabalho e do compromisso, mas também do sofrimento e da solidão – e, com delicadeza infinita, pede-nos que deixemos aquecer o coração”.