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A Igreja e a delimitação da terra

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A Igreja e a delimitação da terra

Fonte: Pe. Crispim Guimarães

Não é de hoje que a Igreja Católica no Brasil apoia e encabeça movimentos em prol das populações mais pobres. Quem não se lembra das lutas pela redemocratização, pela reforma agrária, pela auditoria da dívida externa e, mais recentemente, pela aprovação da ficha limpa?

Desde a colonização, aproximadamente entre 1530-1550, quando Portugal decidiu expandir a lavoura da cana-de-açúcar no Brasil colônia, persiste no país a cultura das grandes propriedades de terras nas mãos de poucos.

“Naquela longínqua ocasião, o território nacional foi recortado em 15 capitanias hereditárias, em regime de sesmarias. Os beneficiários eram nobres ou amigos da coroa portuguesa, que tinham a missão de produzir no solo fértil de sempre que aqui persiste”.

Capitanias hereditárias que denotam passar de pais para filhos (parentes), e isto continua até hoje. Ora, se antes dos portugueses chegarem, as terras não eram deles, hereditariamente, eram de outros povos! Como virou isso que até então conhecemos?

Existe um projeto de iniciativa popular, que pretende delimitar as terras no país, projeto este que a Igreja Católica e muitas outras instituições foram chamadas para apoiar. Já circula nas mãos de muitas lideranças católicas um abaixo-assinado para levantar mais de um milhão e quinhentas mil assinaturas para apresentar um projeto de lei de iniciativa popular, no tocante a este assunto. Também, respaldados pela Constituição de 1988, é que de um a sete de setembro, será realizado outro plebiscito, na Semana da Independência, desta vez sobre o limite da terra. Os brasileiros vão dizer se querem ou não estabelecer um tamanho máximo para propriedades rurais.

O que dizer como Igreja ou como padre? Temos que pensar de fato neste assunto com carinho e paixão, mas sem deixar que a paixão tire nossos pés do chão. Não basta dizermos, como hierarquia da Igreja, para o povo votar a favor. No momento, pessoalmente, acredito que o primeiro plebiscito deveria ser sobre o sistema financeiro nacional. Por que os bancos ganham tanto dinheiro? Por que os Governos FHC e Lula, mais voltados à esquerda, nunca deflagraram uma luta contra os lucros exorbitantes dos bancos? Quais os grandes financiadores dos afilhados políticos destes dois governos, Dilma e Serra?

Porém, dizer que o problema da terra não existe, seria ingenuidade. Vejamos alguns dados contidos no material do plebiscito: “44% de toda a zona rural do Brasil são fazendas com mais de mil hectares (em Mato Grosso, isso ainda é maior, 78%); 84% dos estabelecimentos rurais são familiares, porém só ocupam 24% da área agrícola e, mesmo assim, empregam 74% das pessoas ocupadas no campo. A agricultura familiar é responsável por toda a produção de hortaliças, mais 87% da mandioca, 70% do feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 21% do trigo; 58% do leite, 59% dos suínos, 50% das aves. A área plantada (oficial) de soja no Estado é 18 vezes maior do que a de feijão e arroz. Você prefere soja ou feijão com arroz?” Estou reproduzindo o que diz o material, alguém pode contestar.

São dados que impressionam, mas para não ser injusto ou manipular alguém, sugeri que a Igreja fizesse vários debates com a sociedade organizada, envolvendo trabalhadores do campo, movimentos sociais, lideranças cristãs, fazendeiros, justiça, Ordem dos Advogados do Brasil, Universidades, para que a população católica seja esclarecida e possa votar SIM ou NÃO.

É necessário que a comunidade leiga tome a frente desta discussão, para não ficar tudo nas mãos dos padres e freiras que, apesar de terem boa vontade, nem sempre conhecem o assunto de modo profundo. Por isso, a sugestão para que as instituições citadas sejam envolvidas. Que o problema é sério, não tenho dúvidas.

Pe. Crispim Guimarães dos Santos
Assessor de Comunicação e Coordenador de Pastoral da Diocese de Dourados.


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