Acidigital
O papa Leão XIV exortou ontem (24) centenas de seminaristas de todo o mundo a testemunharem a “ternura” e a “misericórdia” de Cristo num “mundo onde muitas vezes há ingratidão e sede de poder”.
“O seminário deve ser uma escola dos afetos”, disse ontem o papa em seu primeiro encontro oficial com seminaristas do mundo todo. “Hoje de modo especial, num contexto social e cultural marcado pelo conflito e pelo narcisismo, precisamos aprender a amar e fazê-lo como Jesus”.
Chegando ao altar da basílica de São Pedro, onde ocorreu o encontro como parte do Jubileu dos Sacerdotes, Leão XIV foi recebido com aplausos entusiasmados, e seu discurso foi interrompido várias vezes por gritos de alegria e gritos de “Papa Leão!”
Ele chegou a improvisar algumas palavras em espanhol no encontro com os futuros padres, que viajaram a Roma na última semana para participar desse Jubileu em celebração ao Ano Santo de 2025.
“Também digo algumas palavras em espanhol”, disse o papa. “Obrigado por terem aceitado com coragem o convite do Senhor para continuarem sendo discípulos, para serem corajosos, para entrarem no seminário. E não tenham medo”.
Leão XIV os exortou a abraçar “os sentimentos de Cristo, a progredir na maturidade humana, especialmente afetiva e relacional”, e a rejeitar “toda máscara e hipocrisia”.
Não esconder os limites
“Com o olhar fixo em Jesus, devemos também aprender a nomear e expressar a tristeza, o medo, a angústia e a indignação, trazendo tudo isso para o nosso relacionamento com Deus”, disse o papa. “Crises, limitações e fraquezas não devem ser escondidas, mas sim ocasiões de graça e experiência pascal”.
Ele disse também que o centro de todo caminho de discernimento deve ser o coração, embora às vezes “possa ser assustador, porque nele também há feridas”.
“Não tenham medo de cuidar deles, deixem-se ajudar, porque é justamente dessas feridas que nascerá a capacidade de estar com quem sofre”, disse Leão XIV. “Sem uma vida interior, a vida espiritual é impossível, porque Deus nos fala justamente ali, no coração”.
Segundo Leão, assim como Cristo amou com um coração humano, os sacerdotes “são chamados a amar com o Coração de Cristo”.
O papa destacou a necessidade de fazer um trabalho interior que permita também “aprender a reconhecer os movimentos do coração”.
“Não só as emoções rápidas e imediatas típicas dos jovens, mas sobretudo os seus sentimentos, que os ajudam a descobrir a direção das suas vidas”, disse Leão XIV. “Se aprenderem a conhecer os seus corações, tornar-se-ão cada vez mais autênticos e não precisarão de usar máscaras”.
Assim, ele disse que o caminho privilegiado para a interioridade é a “oração”. O papa também falou sobre o risco de uma vida espiritual superficial “numa era de hiperconectividade”, na qual se torna cada vez mais “difícil experimentar o silêncio e a solidão”.
No entanto, ele disse que sem encontrar Cristo, “não podemos nem mesmo conhecer verdadeiramente a nós mesmos”.
O clamor dos pobres e oprimidos
Leão XIV também pediu aos seminaristas que escutassem, como Jesus, “o grito muitas vezes silencioso dos pequenos, dos pobres e dos oprimidos, e de tantos — especialmente os jovens — que buscam um sentido para suas vidas”.
“Nada de vocês deve ser descartado, mas tudo deve ser assumido e transfigurado na lógica do grão de trigo, para que vocês se tornem pessoas e sacerdotes felizes, pontes e não obstáculos para o encontro com Cristo daqueles que se aproximam de vocês”, disse também o papa.
Ele disse também que hoje, envolver-se “na fascinante aventura da vocação sacerdotal não é nada fácil” e elogiou a decisão deles de “se tornarem arautos gentis e firmes da Palavra que salva, servos de uma Igreja aberta em missão”.
Testemunhas de esperança
“A sabedoria da Mãe Igreja busca sempre as formas mais adequadas para a formação dos ministros ordenados”, disse o papa, enfatizando que essa missão não pode ser cumprida sem o envolvimento ativo dos próprios seminaristas.
“Hoje vocês não são só peregrinos, mas testemunhas de esperança”, disse Leão XIV a eles, encorajando-os a se deixarem moldar pelo Espírito Santo e a praticar um estilo de vida marcado pela “gratuidade, ternura e misericórdia”.
Em várias ocasiões, ele retomou a imagem do Coração de Jesus como símbolo do sacerdócio segundo Deus e citou a esse respeito a última encíclica do papa Francisco, Dilexit nos: “O Coração de Cristo é animado por uma imensa compaixão: é o Bom Samaritano da humanidade”.
O papa concluiu destacando que os seminaristas devem aprender a “alimentar” o povo de Deus, não só com palavras, mas com a dedicação da própria vida.