| “Uma voz clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, aplainai suas veredas!” – Marcos 1, 3 |
Estamos iniciando um tempo privilegiado na caminhada católica, em que a Igreja nos convida a adotarmos uma atitude de espera, de expectativa, de preparação e de esperança.
Este termo tem origem do latim “Adventus”, que significa chegada.
Para nós este “Adventus” se constitui em um período de preparação para a chegada do Salvador, do Cristo Jesus gerado no seio da Virgem Maria.
É o tempo que dá início a novo ano litúrgico na Igreja e apresenta elementos que nos colocam na espera do cumprimento da promessa de que viria um Salvador para reconduzir a humanidade à presença de Deus: “uma virgem conceberá e dará à luz um filho” (Isaias 7, 14).
O nascimento de Jesus marca a história da humanidade de tal forma que até a contagem do tempo se divide em “Antes de Cristo” e “Depois de Cristo”. O tempo “antes de Cristo” é contado de forma decrescente, que zera com o nascimento de Jesus e a partir do nascimento inicia-se a contagem crescente do tempo, nessa contagem já estamos no ano 2025 (depois de Cristo).
A liturgia da Igreja adota uma hierarquia de importância das celebrações, destacando como as duas mais importantes – o Natal e a Páscoa. O Natal celebra o nascimento e a Páscoa celebra a paixão, morte e ressurreição de Jesus.
Podemos identificar a importância destas duas solenidades pelo tempo que a liturgia dedica à sua preparação e à sua celebração.
A preparação para o Natal inicia-se no primeiro domingo do advento (4 semanas) culminando na solenidade do nascimento que é celebrado e vivido até o domingo do Batismo de Jesus, são mais quatro semanas, portanto o ciclo do Natal compreende 9 semanas divididas entre advento, semana do natal e tempo do natal.
Já a preparação para a Páscoa tem início na Quarta-feira de cinzas com o tempo da Quaresma (5 semanas) a Semana Santa, a Oitava da Páscoa, e o Tempo Pascal que se estende até a solenidade de Pentecostes, num total de aproximadamente 13 semanas, que é o ciclo pascal.
No domingo que passou iniciamos a preparação para o Natal, com o primeiro domingo do advento.
No advento somos convidados a fazer uma preparação espiritual para esse grande evento da humanidade e nos propõe alguns exercícios e atitudes que nos conduzem a um estado de espírito adequado para recebermos e acolhermos o Deus que se faz homem como nós, para nos reconduzir ao Pai. “O Verbo era Deus” (João 1, 1) “O Verbo se fez carne, e habitou entre nós” João 1, 14.
Infelizmente nos dias atuais essa preparação que deve ser essencialmente no âmbito espiritual, foi transformada em algo apenas comercial, material, social onde se celebra tudo, menos o nascimento de Jesus. Celebra-se um aniversariante que é esquecido e muitas vezes rejeitado. Jesus está sendo substituído pela figura do “papai Noel”. O termo “Noel” Tem origem no francês antigo Nouel, Noël, que significa “Natal”, que é uma abreviação do latim “Christi natalis dies”, que quer dizer “dia do nascimento de Cristo”.
Mesmo com esse sugestivo significado, nesse dia o que menos se recorda e se celebra é o que o termo significa: “Nascimento de Cristo”, e a figura do velhinho de barba branca, que nem é pai, muito menos Cristo, por interesses puramente comerciais, assume o protagonismo, colocando no esquecimento a verdadeira e principal figura que deve ser a Pessoa de Jesus Cristo, que é o verdadeiro enviado do Pai, gerado e nascido do seio puríssimo de Maria, e vem para trazer a paz e a salvação a todos os povos.
Trocam-se presentes, porém o maior presente vem do Céu, e nós não o reconhecemos: “Estava no mundo e o mundo foi feito por ele e o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (João 1, 10-11)
A Igreja nos propõe exercícios espirituais de penitencia, arrependimento, exame de consciência, mudança de atitudes e abertura para o perdão e o Amor.
Porém muitos de nós reduzimos o Advento e a preparação para o Natal, apenas na compra de presentes, renovar a pintura da casa, trocar de carro, renovar o guarda-roupa, preparar a ceia de natal, com comidas, pratos especiais, troca de presentes, abraços e afagos protocolares, muitas vezes embalados pela alegria efêmera motivada pelo excesso de bebida
Não somos capazes de lembrar dos irmãos menos favorecidos, que muitas vezes não tem uma família com quem celebrar, não tem uma mesa posta para se alimentar, nem roupas adequadas para a ocasião, muito menos nos lembramos do personagem principal motivador da celebração – Jesus Cristo.
Repetimos o mesmo episódio da noite do nascimento: “Não havia lugar para eles na hospedaria” (Lucas 2, 7b). Infelizmente em muitos dos nossos lares, na noite do nascimento de Jesus, não há lugar para Ele em nossas mesas ricamente enfeitadas, em nossos presentes, em nossas canções, em nossas casas e até mesmo, e pior, não há lugar para Ele em nossos corações.
Assim, como já acontece com outras festas de origem cristã (carnaval), não podemos permitir que o Natal também seja transformado em uma festa puramente pagã, onde se celebra tudo, menos a Pessoa central da Festa.
Imaginemos o constrangimento de celebramos o aniversário de um ente querido onde ele, o aniversariante, não se faz presente.
Seria muito triste. Mas é mais ou menos dessa forma que celebramos o Natal. Celebramos um aniversário, no qual, na maioria das casas, o aniversariante nem é lembrado e está ausente no coração e nas mentes dos presentes.
O maior presente que podemos nos dar uns aos outros é a presença de Jesus Cristo na celebração da nossa noite de Natal. Presenteie-se e dê de presente essa Pessoa que nasceu por Amor e para amar, a quem você ama.
Ofereçamos em nossas casas, não uma manjedoura para Jesus, mas o melhor assento, o melhor berço, a melhor acolhida e a mais intima e verdadeira festa de acolhimento.
Sejamos como os reis Magos, adoremos Jesus na manjedoura dos nossos corações.
Para isso, neste tempo de Advento, prepare bem o seu coração, a sua mente, a sua casa, a sua família para acolher de coração aberto a presença do maior e melhor presente que o Céu nos concede – Jesus.
“Um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro Admirável, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz”. (Isaias 9, 5)
Preparemo-nos bem e celebremos dignamente o nascimento de Jesus Cristo, que sendo Deus se fez homem, para salvar a humanidade decaida e reconduzi-la ao Pai.






