Thulio Fonseca – Vatican News
Na manhã desta terça-feira, 17 de junho, o Papa Leão XIV recebeu no Vaticano os bispos da Conferência Episcopal Italiana (CEI), reunidos por ocasião da 80ª Assembleia Geral Extraordinária, para tratar de assuntos estatutários. O encontro teve lugar na Sala das Bênçãos, localizada entre a Basílica e a Praça São Pedro, local que evocou ao Pontífice a memória de sua primeira bênção, na noite de sua eleição.
“Esta Sala está carregada de emoções que acompanharam os eventos recentes. De fato, o Papa deve atravessá-la para se apresentar à sacada central. O amado Papa Francisco o fez para sua última Mensagem pascal Urbi et Orbi, que foi seu derradeiro e intenso apelo à paz para todos os povos. E eu também, na noite da eleição, quis ecoar o anúncio do Senhor Ressuscitado: A paz esteja convosco!”
Colegialidade e fidelidade ao Evangelho
Em clima fraterno, Leão XIV agradeceu a oração dos bispos e das comunidades: “Preciso muito delas!” Em seguida, inspirando-se no espírito do Concílio Vaticano II e no decreto Lumen Gentium, ressaltou que deseja viver seu serviço em colegialidade com o episcopado, como parte de um único colégio apostólico, com Pedro à frente. Nesse sentido, destacou a importância da comunhão entre os bispos e com o Papa, refletida também na colaboração com as instituições civis, a serviço do bem comum. “A CEI é chamada a ser expressão de colegialidade e lugar de escuta, articulação e coordenação pastoral, sempre na fidelidade ao Evangelho”, afirmou.

Coragem diante dos desafios do tempo presente
Diante dos desafios do tempo presente, como a secularização, o esfriamento da fé, a crise demográfica e as transformações culturais, o Papa evocou palavras proferidas por Francisco na abertura da 70ª Assembleia da CEI, para lembrar que é necessária “audácia” diante da tendência de normalizar realidades inaceitáveis. A profecia, disse, não exige rupturas, mas sim escolhas corajosas, que nascem da escuta atenta de Deus e do povo:
“A Igreja deve deixar-se ‘incomodar’ pelas situações humanas, animada pelo espírito das Bem-aventuranças, que são programa e critério do agir cristão”.
A alegria do Evangelho no centro da missão
O Papa insistiu na centralidade do anúncio de Jesus Cristo, que deve ser colocado no centro da vida da Igreja e das suas estruturas pastorais. “É necessário um renovado impulso na evangelização, que ajude as pessoas a viverem uma relação pessoal com o Senhor. Trata-se de reacender a alegria do Evangelho”, afirmou. Citando a Evangelii Gaudium, Leão XIV ressaltou que, num tempo de dispersão e fragmentação, é urgente retornar ao kerygma, o núcleo vivo da fé:
“Este é o primeiro grande compromisso que deve nos motivar: levar Cristo ‘nas veias’ da humanidade, renovando e compartilhando a missão apostólica: ‘O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos’ (1Jo 1,3).”
Igreja como casa da paz
Entre os apelos centrais do discurso, esteve o chamado à paz. Leão XIV afirmou que a Igreja não pode deixar de ser, em cada território, espaço de reconciliação, “casa da paz” onde se aprende a desarmar hostilidades e cultivar justiça e perdão: “O Senhor nos envia ao mundo para levar o seu próprio dom: ‘A paz esteja convosco!’”, e completou:
“Espero, então, que cada diocese possa promover percursos de educação para a não violência, iniciativas de mediação em conflitos locais, projetos de acolhida que transformem o medo do outro em oportunidade de encontro. […] A paz não é uma utopia espiritual: é um caminho humilde, feito de gestos cotidianos, que entrelaça paciência e coragem, escuta e ação. E que pede hoje, mais do que nunca, nossa presença vigilante e geradora.”

Dignidade humana e cultura digital
O Pontífice também se deteve sobre os impactos antropológicos das novas tecnologias e da cultura digital. Mencionando a inteligência artificial, as biotecnologias e o uso das redes sociais, advertiu para o risco de uma visão funcional e técnica do ser humano, em que a dignidade acaba sendo obscurecida. “A pessoa não é um sistema de algoritmos: é criatura, relação, mistério”. E defendeu uma reflexão ética e pastoral que integre a antropologia cristã, para que a fé continue a ser encarnada e a Igreja, verdadeiramente humana.
Sinodalidade como estilo permanente
Outro aspecto sublinhado foi a importância da escuta, do diálogo e da sinodalidade. “É belo que todas as realidades eclesiais sejam espaços de escuta intergeracional, de encontro com mundos diversos, de cuidado com as palavras e os vínculos”, afirmou Leão XIV. Retomando o caminho sinodal, pediu que a sinodalidade não seja apenas um evento, mas uma disposição permanente:
“Permaneçam unidos e não se defendam das provocações do Espírito. Que a sinodalidade se torne mentalidade, no coração, nos processos decisórios e nos modos de agir.”

Pastores ousados e leigos protagonistas
Com um pedido direto aos bispos, o Papa encorajou-os a não temerem o novo, nem deixarem de fazer escolhas pastorais ousadas: “Ninguém poderá impedi-los de estar próximos das pessoas, de compartilhar a vida, de caminhar com os últimos, de servir os pobres”. E reforçou o papel dos leigos como protagonistas da missão:
“Cuidem para que os fiéis leigos, alimentados pela Palavra de Deus e formados na doutrina social da Igreja, sejam protagonistas da evangelização nos locais de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos ambientes sociais e culturais, na economia, na política.”
Deixemo-nos atrair por Deus
Por fim, Leão XIV convidou todos a caminharem com esperança: “Caminhemos juntos, com a alegria no coração e o louvor nos lábios. Deus é maior do que nossas mediocridades: deixemo-nos atrair por Ele! Confiemos na sua providência. Confio todos vocês à proteção de Maria Santíssima: a Nossa Senhora de Loreto, de Pompeia e dos inúmeros santuários que pontilham a Itália. E os acompanho com minha bênção”, concluiu o Papa.